4 de setembro de 2015

Retrato ruidoso

Eu morava com minha mulher e nossa pequenina numa quitnete de 38 mt2 na Santa Efigênia, no centro de São Paulo.
Tínhamos saído de um apartamento de 2 quartos no Jabaquara para nos mudamos para lá, em 2012, pois então tínhamos o EC Walden (que ficava na praça da República) e ainda não tínhamos a pequena.

Em julho último, quase três anos depois (nossa pequena com um ano de idade), nos mudamos para um apartamento grande na Aclimação, perto do CCSP.
Como o apartamento estava parado fazia anos, antes de nos mudarmos contratamos prestadores de serviços para restaurar o que precisava no apartamento (recuperar o piso de taco, reformar a cozinha, pintar etc).
Pesquisamos muitos prestadores e negociamos bem e ainda assim gastamos mais de 10 mil reais nisso tudo, um dinheiro que nos está fazendo muita falta.

Nos mudamos e aqui estamos, o apartamento é realmente muito legal, mas menos de um mês após nossa mudança o empreendimento imobiliário Retrato Paulista, que está ao nosso lado e estava parado fazia um tempão, começou a construção de sua torre gourmet em formato feudal (ou melhor, casa grande e senzala), num condomínio de luxo hermeticamente fechado.

Dia após dia, de segunda a sexta, o apartamento onde moramos treme.
Com todas as portas e janelas fechadas, aqui dentro do apartamento o nível de pressão sonora ultrapassa os 100db.
O piso que tinha acabado de ser restaurado e estava lindo, está soltando por conta do tremor constante.
Trabalhar no computador, escutar música ou assistir TV se tornaram uma tortura, a louça na pia treme, às vezes acordo com a cama que treme, sinceramente muitas vezes sinto como se o prédio todo fosse desabar.

Depois que nos mudamos pra cá, e antes da construção começar, logo na primeira vez que chamamos amigos para conhecer nossa casa nova, uma vizinha mal-amada reclamou pois estávamos importunando seu descanso por conta de nosso barulho inapropriado no nosso quintal. Não que ela tenha vindo até nós para conversar civilmente, nada disso, ela apenas soltou alguns grunhidos lá de cima da janela dela mesmo. 
Até mesmo quando só estávamos nós em casa, qualquer ruído cotidiano depois das 21h no quintal já causava os tais grunhidos.

Pois bem, na obra da torre gourmet do Retrato Paulista, logo cedo a partir das 7 da manhã começa o tremor contínuo com aquele ruído ensurdecedor de bate-estaca. Várias vezes o tremor e o barulho prosseguem após o horário comercial e em mais de uma ocasião até mesmo depois da meia-noite (uma vez inclusive saí na rua de pijamas para ver que diabos estava acontecendo).

Pergunta: a vizinhança reclama?
Hehe, nada. Nunca ouvi um pio de reclamação de ninguém. Fico intrigado chegando até a pensar, às vezes, que o inferno seria apenas dentro do meu apartamento!

Quando tínhamos o EC Walden os vizinhos lá reclamavam do incômodo que o barulho dos nossos eventos (shows e discotecagens) causava, então mudamos toda a configuração física do EC Walden, reformamos o porão (inclusive com isolamento acústico) e passamos para lá todos os eventos mais "barulhentos", depois os vizinhos começaram a reclamar por conta do incômodo causado pelo barulho produzido pelos clientes na calçada, então mudamos os horários do nosso funcionamento, abandonando de vez o formato balada e fechando cedo.

A placa em frente ao canteiro aqui diz "mais um empreendimento financiado pelo Itaú". Quanto será que custa um apartamento no Retrato Paulista?
Suponho que seja caro demais, mas o preço maior quem está pagando sou eu (que tive meu piso todo fodido) juntamente com os demais vizinhos que se incomodam com esse tipo de especulação imobiliária - com seu tremor e ruídos insuportáveis e a gourmetização elitista (se é que aqui há mesmo vizinhos que se incomodam; às vezes acho que sou o único).