29 de agosto de 2014

Voto ideológico e/ou útil

Desde o início da pré-campanha eleitoral deste ano venho tomando posições e por conta disso me engajando em debates e por vezes embates, haha.

Não sou filiado a partido algum nem tenho partido cativo único de preferência na hora de votar, isto é, voto de acordo com o candidato, analisando caso a caso.

Acontece que no Brasil hoje temos alguns poucos partidos governando nosso país, uns 5 ou 6 (e dentre eles há 3 ou 4 que são gigantes a ponto de concentrar o maior poder possível), os demais partidos não conseguem votação expressiva e muitas vezes ficam com menos de 1% dos votos...

Então muitas vezes eu acabo sendo visto como petista, pois na grande maioria das eleições o candidato do PT é o que mais se aproxima do que espero de um candidato. Mas isso não quer dizer que sou petista, pois eu não sou petista mesmo.

Acho que o PT hoje se encontra desgastado e diluído, mas mesmo assim, dentre os 3 ou 4 partidos que efetivamente detêm o poder político no Brasil, o PT ainda é o melhor (ou menos pior, hehe).

Até o dia de hoje eu vinha me engajando em debates e por vezes embates, como disse no começo deste texto, mas somente com apoiadores do PSDB, que odeiam o PT a ponto de desqualificar tudo de bom que o PT já fez.

São pessoas conservadoras, que ficam enfurecidas com o fato de hoje termos o Bolsa Família expandido (e não restrito e diminuto como era no governo FHC), de termos as cotas raciais nas universidades, de termos tido por iniciativa do governo do PT a copa do mundo no Brasil (que foi uma das melhores de todos os tempos), de termos as olimpíadas a caminho também, de hoje não mais sermos dependentes do FMI, de sermos hoje um país que não se curva aos EUA nem à Europa, muito pelo contrário, hoje investe em outros países e é um importante líder regional e membro do BRICS, entre muitas outras coisas.

Sim, houve o mensalão, e isso foi péssimo para o país e principalmente para o PT. Mas o mensalão foi julgado e os culpados foram condenados, acontece que os outros partidos continuam cometendo crimes de corrupção (inclusive maiores e mais escandalosos) e continuam impunes, justamente porque uma parte dos quadros das entidades incumbidas de fiscalizar, de investigar e julgar os crimes de corrupção infelizmente são corruptos também.

Então morreu Eduardo Campos e Marina Silva “assumiu”, o que alterou todo o cenário das eleições presidenciais. Nesse novo cenário Aécio ficou para trás, com Dilma e Marina na frente e ambas com chances reais de serem eleitas.

Antes eu já estava decidido, no primeiro turno iria votar no candidato que melhor me representa: Eduardo Jorge, do PV.

E no segundo turno iria votar na Dilma, o chamado voto útil, afinal dentre os candidatos com chance de vitória, considero a Dilma a melhor mesmo.

O debate dos presidenciáveis na Band, porém, mostrou algo para mim, algo que eu não tinha visto até então: os modos pessoais de cada candidato, as fisionomias, as escolhas de argumentação e reações etc.

Foi então que o candidato que melhor me representa se mostrou extremamente lúcido e isento, corajoso e bem-humorado. E foi a sensação do debate.

Antes de ontem eu postei no facebook sobre minha indecisão na hora de votar no primeiro turno, e para minha surpresa, um amigo, petista, se mostrou crítico a essa minha predileção por Eduardo Jorge.

E o pior foi que a argumentação desse amigo se limitou a desqualificar o Eduardo Jorge, ao invés de tentar mostrar como o projeto do PT seria melhor que o do PV.

Esse comportamento – evitando o confronto das ideias, dos programas, preferindo desqualificar o oponente de outras formas impertinentes - se repete, seja por parte dos conservadores (que fazem isso desde que o PT assumiu o poder), seja também por parte de petistas (que agora atacam Marina).

Que fique claro, pessoalmente considero a Marina um retrocesso total. Não apoio Marina e seu programa ainda inexistente. Ela diz que representa a “nova política” mas suas atitudes demonstram o contrário, refletem o que já vimos de ruim muitas vezes...

Mas não é disso que quero falar aqui.

O argumento desse meu amigo, petista, para desqualificar o Eduardo Jorge, é que lhe falta experiência, que seria um candidato sem noção das complexidades e sem condições de tomar as medidas necessárias etc. Usou como exemplo a proposta – de um outro candidato – de no seu primeiro dia de governo, aumentar o salário mínimo para 3,5 mil reais. Respondi mostrando que o Eduardo Jorge tem sim experiência e perguntando se ele já tinha lido o programa de governo do PV. Ele me respondeu que nao tinha lido, e disse que não fazia diferença, pois no programa de governo do PSDB tinha algo que não seria cumprido! Haha, mantive a calma e respondi simplesmente pedindo para que ele lesse o programa do PV.

Então esse amigo sumiu.

Mas...

Dois dias depois esse amigo posta em meu mural do facebook um link para uma matéria sobre a entrevista do Eduardo Jorge ao G1. A manchete diz algo como “ se eleito Eduardo Jorge acabará com o salário dos vereadores”.

Pronto, assim.

Eu iria responder diretamente lá, mas preferi escrever esta nota aqui mesmo.

Acabar com o salário dos vereadores causou tanto estupor assim a esse meu amigo?

Oras, quem começou com essa história de vereador ter salário em todas as cidades do Brasil foi o presidente Geisel em 1977.

Sim, o general da ditadura!

Em muitos países a função de vereador não tem salário, em muitos casos apenas uma ajuda de custo, isso é perfeitamente plausível e muito positivo inclusive.

Eu fui ver a matéria, e depois de ler, assisti aos quatro blocos da entrevista do Eduardo Jorge ao G1.

Ele, além de demonstrar que é extremamente culto, foi muito claro, disse que iria propor, disse que o plano de governo não seria enfiado goela abaixo dos brasileiros, ele sabe que se não tiver o apoio da sociedade e que se não tiver maioria no congresso não vai conseguir implantar seu plano de governo.

Obviamente que a Globo iria botar uma manchete daquelas, mas se nos limitarmos a seguir o que o PiG diz, ferrou.

Ao contrário do que diz esse meu amigo, petista, eu vi que Eduardo Jorge tem sim capacidade, de sobra, para governar o Brasil e promover mudanças históricas proporcionando melhorias na vida dos brasileiros. Fiquei mais entusiasta ainda sobre a ótima qualidade do programa de governo do PV de Eduardo Jorge!

6 de agosto de 2014

Corrupção no Brasil

(originalmente postado no facebook)

Uma unanimidade: posicionar-se contra a corrupção. Você pode escutar essa em qualquer canto, de bate-papos em boteco a memes aqui no facebook.
No entanto a corrupção está aí, está por toda parte e quando eu escuto essa por aqui (alguém se posicionando contra a corrupção), quase sempre sinto como se esse ato de posicionar-se contra a corrupção ao mesmo tempo proporcionasse uma redenção, afastando de sí qualquer preocupação ou a própria percepção do que pode ser corrupção...

A corrupção gera disparidade, desequilíbrio, desigualdade. Gera injustiça, é egoísta e covarde. A corrupção é um crime.
Por isso que será muito difícil você ver alguém se assumindo corrupto. Assim como é difícil ver alguém se assumindo racista ou assassino, por exemplo.
No entanto muitos acabam esquecendo que, assim como o racismo e o assassinato, a corrupção também depende de dois lados para ocorrer. Mas enquanto num ato de racismo um lado sai lesado pelo outro, e num assassinato um lado sai, tipo, morto, na corrupção os dois lados lesam os demais e a sociedade é lesada como um todo, ambos fingindo não terem feito nada por mal. 
A corrupção é um mal social. Corrupto é quem propõe e também quem aceita. Alguém pode matar sozinho, mas ninguém é corrupto sozinho. A corrupção tende ao coletivo, piorando o indivíduo, que por sua vez degenera a sociedade em que vive. E assim podemos descer a ladeira.

A ONG (Organização não governamental) TI (Transparência Internacional), com sede em Berlim, desde 1995 publica o relatório anual Índice de Percepção de Corrupção (IPC), que ordena os países do mundo de acordo com "o grau em que a corrupção é percebida". 
Os países menos corruptos, isto é, os primeiros colocados no IPC, coincidência ou não, são aqueles com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) mais avançado.
O Brasil ocupa a posição de número 69 (opa!) no relatório IPC de 2010. Ou seja, é corrupção a dar com pau.

Não tem viralatismo no que escrevo, mesmo nos países com IDH avançado a corrupção existe, mas ali é tratada sem vista grossa, com atenção e rigor, independentemente de filiação partidária ou ideologia política; nesses países a corrupção é reconhecida e combatida ao invés de ignorada ou mesmo tolerada. 

Quando a corrupção é tida como inevitável e sua prática tolerada ou aceita como algo inerente ao comportamento padrão, não dá outra, merda.

Nossa corrupção, a corrupção que temos aqui no Brasil, dia após dia, é uma herança colonial, que remonta ao jeitão hispânico, que remonta ao jeitão latino.
Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais e pelo Instituto Vox Populi mostra que um em cada quatro brasileiros considera que pequenos atos de corrupção são parte do cotidiano.
Começa cedo, a criança colando nas provas da escola, a brincadeira cresce e (mesmo fingindo não fazer,) a pessoa faz coisas como: Não dar (ou não pedir) nota fiscal (seja para sonegar, seja para conseguir desconto), não declarar Imposto de Renda, tentar subornar o guarda para evitar multas, falsificar carteirinha de estudante, dar/aceitar troco errado, roubar TV a cabo, furar fila... 
Ops, sabe, nem percebi, já foi. 
Esses, entre muitos outros atos cotidianos, são considerados por um a cada três brasileiros como coisas um pouco erradas, mas não atos de corrupção.

A corrupção, quando associada à impunidade (gerada pela tolerância mencionada acima), se torna atrativa até para quem não cresceu nessa, ou seja, é contagiosa. 

E aqui chegamos à máxima "cada povo tem o governo que merece". A tal corrupção política.
Suborno/propina, nepotismo, extorsão, tráfico de influência, utilização de informação governamental privilegiada para fins pessoais ou de pessoas amigas ou parentes, compra e venda de sentenças judiciárias, oferecimento e/ou recebimento de presentes ou de serviços, entre muitos outros atos de corrupção de muitos de nossos representantes políticos. Nada de novo, são reflexos.

É um círculo vicioso, iniciando na educação de baixa qualidade para as crianças, passando pela sensação de impotência individual, na descrença pelas atividades político-eleitorais, culminando na falta de comprometimento dos políticos para com seus representados e no contágio da ganância inescrupulosa entre poder público e os setores privados da economia, resultando na degeneração da sociedade como um todo. O cachorro que persegue o próprio rabo.

No Brasil a corrupção é tida como algo tão batido, algo tão descontado, que nem lembramos dos casos mais antigos, afinal os corruptos não foram investigados mesmo, e se foram, então não foram julgados, e se foram, então não foram condenados, e se foram, olha, acabou que não pagaram pelos crimes cometidos.
Na Wikipedia há uma entrada chamada Anexo:Lista de escândalos políticos no Brasil. Os primeiros casos listados ali, que são pouquissímos, são da década de 70. Do século XX.


Agora vou dar uma olhada nos dois rankings sobre corrupção política no Brasil de que dispomos. Um é o ranking da justiça eleitoral com base na lei Ficha Limpa. O outro é o dossiê do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE).

Ficha Limpa, ou Lei Complementar nº. 135 de 2010, é uma legislação brasileira que foi emendada à Lei das Condições de Inelegibilidade ou Lei Complementar nº. 64 de 1990, originada de um projeto de lei de iniciativa popular.
A lei torna inelegível por oito anos um candidato que tiver o mandato cassado, renunciar para evitar a cassação ou for condenado por decisão de órgão colegiado (com mais de um juiz), mesmo que ainda exista a possibilidade de recursos.

O dossiê do MCCE é um levantamento produzido a partir de informações divulgadas pelo Tribunal Superior Eleitoral, relatando estatísticas sobre a corrupção política no Brasil a partir da aprovação da Lei n° 9.840 de 28 de setembro de 1999. O balanço foi divulgado pela primeira vez em 4 de outubro de 2007. Segundo o dossiê, entre 2000 e 2007, 623 políticos brasileiros tiveram seus mandatos cassados após a instalação de processos para averiguar denúncias de corrupção. O balanço refere-se exclusivamente às cassações promovidas pela Justiça Eleitoral, não incluindo políticos cassados em virtude de condenações criminais.

O que temos?
Opa, aqui vamos nós.

Dentre todos os cargos políticos o mais ocupado por corruptos é sem dúvida o de prefeito.
317 políticos brasileiros foram impedidos de se candidatar para prefeito pela lei Ficha Limpa. E este número vai aumentar, assim que os casos em julgamento estiverem concluídos.
508 prefeitos e vice-prefeitos foram cassados de acordo com o dossiê do MCCE.

Os estados mais corruptos do Brasil são: Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Norte, Ceará e Rio Grande do Sul.

Os partidos mais corruptos do Brasil são: PSDB, DEM, PMDB e PP.
Para se ter uma idéia, de acordo com os rankings, a quantidade de políticos corruptos do PT é de pelo menos seis vezes menos que o número de políticos corruptos do PSDB.


Trocando em miúdos, não existia combate à corrupção política no Brasil antes dos anos 2000.
Queira ou não, simples assim: É a partir do primeiro governo Lula que se cria a Controladoria Geral da União, que a Polícia Federal multiplica seu efetivo e o número de operações, que a expulsão de servidores envolvidos em corrupção passa de exceção para regra.
Aqui alguns links com números:


Erradicar a corrupção totalmente, acabar com ela, tornar o Brasil livre de corrupção?
Nah, utopia.
Mas precisamos evoluir para que nossa sociedade se torne melhor, precisamos combater a corrupção e a impunidade, em todas as esferas. E não adianta esperar a mudança vir coletivamente, cada indivíduo precisa evoluir por conta própria. Uns aprendem somente com punição, mas não todos. Para conseguirmos combater a corrupção e a impunidade, devemos primeiro assumir a situação, encarar o problema, entender que apesar dos séculos em que a corrupção segue acontecendo desenfreadamente no Brasil, não é algo normal. 
Isso pode transformar o Brasil, para melhor, levar nosso país para o topo do IPC.

É fácil? Certamente não. O caminho é longo e árduo, tem muito corrupto que nunca vai deixar de ser corrupto por conta própria...

Enfim, mesmo sabendo que o PT também tem corruptos em seus quadros e que estes devem ser responsabilizados/julgados/expulsos, pense antes de sair distribuindo rótulos do tipo "petralha" a torto e a direito por aí, informe-se. Reflita sobre seus próprios atos cotidianos e perceba quem é quem.