27 de setembro de 2015

A/C: carrocratas brasileiros de plantão

Hoje, assistindo ao documentário Por Um Fio no canal Curta!, acabei lembrando daquele vídeo onde o carrocrata paulistano se filmou com o celular (enquanto estava ao volante parado no trânsito) gritando desesperadamente seu ódio contra o PT, os petistas, o Haddad, as ciclovias e os ciclistas...

Pobre carrocrata, sabe a Constituição da República Federativa do Brasil?

Aquele conjunto de leis que a Assembléia Nacional Constituinte de 1988 promulgou, depois de vinte anos de uma ditadura militar corrupta, censora e violenta, para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos...

Então, aqui o seu artigo quinto:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (...).

Sim, é simples: 
- um ônibus com 50 pessoas tem o direito a ocupar nas vias públicas o equivalente ao espaço ocupado por 50 carros (contendo uma pessoa cada).

Os carrocratas precisam entender que as vias públicas não são só para os carros, que os ciclistas devem ter direito ao mesmo espaço nas vias públicas que carros, motos etc.

As vias públicas devem ser usadas por ciclistas, motoristas, motociclistas e todos devem ter direito ao mesmo espaço com segurança para todos.

Felizmente o prefeito de São Paulo tem colocado em prática um projeto de cidade mais humano, privilegiando o transporte público (as vias expressas para ônibus são essenciais) e com uma malha cicloviária minimamente digna. 

21 de setembro de 2015

Sobre a carta aberta de Tito Costa a Lula

A Folha de São Paulo publicou hoje, dia 20 de setembro de 2015, a carta aberta que o ex-prefeito de São Bernardo do Campo, Tito Costa, escreveu para Lula. 
Leia aqui.

Mais da metade do texto traz as lembranças que Costa, hoje com 92 anos de idade, guarda de seu tempo de contatos com Lula nos idos de 1979 até 1981. Somente na parte final do texto é que o propósito da carta aberta se manifesta.

Partindo do princípio que ter opinião é um direito fundamental - e o texto de Costa é meramente um texto de opinião, quero deixar claro aqui que não tenho intenção alguma de causar efeito algum em meu leitor no que se refere à pessoa de Costa.
Inclusive desconheço a trajetória política dele. Sei apenas que ele era o prefeito de São Bernardo do Campo durante os últimos anos da ditadura militar.

Quando Costa define o PT como "um partido político que prometia seriedade no manejo da coisa pública" ele acaba passando uma impressão muito incompleta, pois o PT defende sim a seriedade no manejo da coisa pública, mas isso é apenas uma dentre as muitas outras características de seus valores e de sua plataforma. Todo partido que se preze promete seriedade em todos os seus aspectos.

Costa diz que o PT "logo decepcionou a todos pelos desvios de comportamento e de abusos na condução da máquina administrativa do Estado".
Realmente os desvios de comportamento de quadros de destaque do partido foram fonte de decepção para todos aqueles que buscam uma sociedade melhor. Isso não se discute.

Então o texto passa a criticar duramente o projeto de Lula e do PT no governo federal desde 2003. 
Costa faz diversas afirmações acerca de Lula e do PT, tais como:
1. "deixou escapar-lhe das mãos a oportunidade histórica de liderar a implantação de urgentes mudanças estruturais na máquina do poder público";
2. "abandonou um projeto de Brasil para dedicar-se tão somente a um ambicioso e impatriótico projeto de poder, acomodando-se aos vícios da política tradicional";
3. "em seus alargados anos de governo, com indissimulada arrogância, optou por embrenhar-se na busca incessante, impatriótica e irresponsável do aparelhamento do Estado em favor de sua causa que não é a do país";
4. se enganou "com a pretensão equivocada de implantar uma era de bonança artificial pela via perversa do paternalismo e do consumismo em favor das classes menos favorecidas, levando-as ao engano do qual agora se apercebem com natural desapontamento".

Os pontos 1, 2 e 3 são redundantes. O texto martela, o mesmo, repetidamente.
Sem entrar no mérito da discussão em torno da discrepância entre o projeto de Brasil adotado pelo PT e como esse projeto foi e é visto pelos diversos analistas e setores políticos, pois isso beira a epistemologia ou a ontologia, sinto-me à vontade para dizer que Tito Costa se engana ao fazer crer que os erros por parte do governo e os desvios de comportamento por parte de quadros de destaque do partido significam o abandono do projeto de Brasil inclusivo proposto e aprovado democraticamente pela maioria dos votos.

Se costa quis reclamar da máquina de estado inchada do PT, que é o que eu espero ter entendido corretamente, essa "oportunidade histórica" ainda está em curso. Não é porque o PT ainda não enxugou a máquina, que ele ainda não poderá fazê-lo, ou melhor dizendo, antes tarde do que nunca.

Não é como se Lula estivesse para ser executado ou adoentado de morte, Lula ainda é uma força política de grande importância no cenário brasileiro - uma das maiores.

O PT errou diversas vezes, principalmente nos desvios de conduta de quadros de destaque, e muito também em nome da tal governabilidade (e isso inclusive tem a ver com o tema aqui), mas essa implantação de que Costa trata de qualquer forma não poderia ter sido concluída com eficácia de 2003 pra cá, por vários motivos, dentre os quais: 
A. desde 1500 até 2003 o brasil veio daquele jeito, quase quinhentos anos são muito pesados para apenas doze; 
B. o PT erra (como todo e qualquer partido pode errar); 
C. as demais forças políticas e econômicas precisariam apoiar (ou pelo menos aceitar) essa implantação (o que não acontece).

O PT foi eleito para governar o executivo federal, mas ainda há o executivo estadual (multiplique isso por 27), o executivo municipal (multiplique isso por 5.570), além do legislativo (em todas as esferas) e do judiciário (em todas as esferas). 
Isso sem falar do poder econômico etc. 

Sobre os pontos 3 e 4:
Se em termos da tal "máquina do poder público" o PT realmente falhou, é impossível negar que em termos de inclusão social o projeto do PT foi o responsável pelas ações que proporcionaram mudanças positivas históricas.
Esse consumismo, que o tal paternalismo de Lula e do PT proporcionou às classes menos favorecidas, que Costa abomina, sempre foi "direito fundamental" dos privilegiados das classes altas.
Isto é, Costa faz crer que quando o consumismo é praticado pelas classes favorecidas, tudo bem, não é engano, mas quando um governo proporciona consumismo às classes historicamente desfavorecidas, então se trata de engano...

Costa afirma que Lula e o PT levaram as classes desfavorecidas do Brasil ao engano e puxa vida, que esse engano seria justamente a bonança a que nunca antes tinham tido acesso. 

O tal engano nada teve a ver com a bonança material, essa sim muito bem-vinda na busca por uma sociedade melhor. 
Quadros de destaque do partido enganaram sim a confiança de todos, mas o programa de Brasil inclusivo do governo federal do PT continua surtindo efeitos positivos.

Costa vai mais longe, afirma que o tal engano gerou o desapontamento atual. 

Sobre o desapontamento que se sente hoje, Costa se engana ao fazer crer que venha das mesmas pessoas que foram beneficiadas pelos governos de Lula e do PT. 
Desde 2003 o consumo aumentou no Brasil, o poder de compra do salário aumentou e o desemprego caiu. A ONU retirou o Brasil do mapa da miséria, pela primeira vez na história. 
Os programas sociais dos governos do PT, principalmente nas áreas da educação, da habitação e da saúde, foram e são fundamentais. Fato.

O desapontamento vem das classes médias tradicionais, das pessoas que se viram enciumadas pela inédita companhia de milhões de pessoas que progrediram a ponto de agora fazer parte das classes média.

Outra coisa muito importante é perceber que esse desapontamento vem sendo amplamente incentivado e impetrado pelos partidos de oposição e pela grande mídia, numa campanha incessante que ao invés de fazer a crítica em prol do bem do país, nada mais está fazendo que promover o caos e a instabilidade política e econômica e isto sim me parece algo impatriótico.

Muitos dizem que o principal erro do PT, na hora de botar em prática seu projeto de Brasil, foi o de priorizar o acesso ao crédito e ao consumo, ao invés de priorizar a inclusão social via educação.

Às vezes concordo com essa crítica, às vezes não.
Reclamar fica fácil, para nós, que nascemos e crescemos com acesso a serviços básicos e tivemos uma formação efetiva, mas procure imaginar como seria na prática isso de promover a inclusão social de milhões de pessoas via educação - sem promover bonança material (isto é, consumismo) - sendo que essas milhões de pessoas se encontram em situação de miséria, desfavorecidas desde o nascimento.

É preciso ter disposição na hora de analisar a situação, para dimensionar o papel do PT nessa crise toda; apontar Lula como bode expiatório é fácil, mas reprovável; fazer crer que o PT é a causa dos males do país e que por isso deveremos todos "esperar por uma era de dificuldades e incertezas", além de algo extremamente pessimista, é inútil e parcial.

17 de setembro de 2015

Living on one

Liguei o Netflix pra ver se tinha algo novo, algo de bom; fui na seção "adicionados recentemente" e no meio das baboseiras usuais (blockbusters...) tinha um documentário chamado Living On One Dollar (o subtítulo do filme é "56 dias, 56 dólares, como você sobrevive?").

Acabei de assistir agora; o filme me deixou arrepiado, emocionado.

Dois norte-americanos - um de Nova Iorque e outro de Seattle - que cresceram em famílias de classe média e se tornaram amigos na faculdade, de tanto conversarem sobre a situação precária dos mais de 1,1 bilhões de pessoas mais pobres deste nosso planeta, decidiram criar algum projeto a respeito.

Chamaram dois outros amigos da faculdade - cineastas - e juntos os quatro foram viver com um dólar ao dia por dois meses (durante as férias deles na faculdade) no vilarejo Peña Blanca no interior da Guatemala em 2010, mostrando as dificuldades que qualquer um que teve o azar de nascer pobre enfrenta diariamente.

O projeto inicial não era fazer um filme. A ideia era fazer vídeos curtos e disponibilizar no youtube; assim o fizeram. Então os vídeos se tornaram extremamente populares. 
Depois é que veio a ideia do documentário, que já foi exibido em diversas universidades nos EUA e que desde o início de setembro de 2015 está disponível mundialmente através do netflix.

Nos dias atuais, com a polarização ideológica que grita em nossa sociedade, entre os que pensam nas desigualdades sociais como coisas naturais, inevitáveis ou até mesmo benéficas; e os que pensam nas desigualdades sociais como coisas inaceitáveis no estágio atual de tecnologia e capacidade em que se encontra a espécie humana; ver quatro jovens de classe média norte-americanos dispostos a - mesmo que por um curto período - largar a vida confortável que tiveram desde o nascimento para testemunhar e experimentar a vida miserável e sem perspectivas que os guatemaltecas de Peña Blanca se submetem a viver por pura ausência de alternativas, é algo revelador e inspirador.
O filme retrata pessoas de diferentes origens, de diferentes classes sociais - pessoas que são postas em contato num contexto que tinha tudo para ser desgastante, em situações que tinham tudo para demonstrar o quão estereotipados e preconceituosos podemos ser -, se abrindo ao outro, de maneira sincera e jovial.

Se você é daqueles que acham que a desigualdade social é natural, inevitável ou até mesmo algo benéfico, que só vive na miséria quem é preguiçoso e que quem merece ou faz por merecer consegue progredir, por favor assista a esse filme. Ele pode te fazer refletir.

Se você é daqueles que acham que a desigualdade social é inaceitável e que o ser humano parece não evoluir como espécie por conta do egoísmo, por favor assista a esse filme. Ele pode te inspirar.

Informações detalhadas para quem se vira no inglês:
A página na wikipedia aqui.
O trailer no youtube aqui.
A página no facebook aqui.

15 de setembro de 2015

Ah, a CPMF...

Li sobre os cortes e a volta da CPMF que a Dilma está propondo para evitar o déficit no orçamento do governo, e conversando sobre isso com alguém especial para mim, alguém que em teoria seria de pensamento progressista, escutei uma reprodução dos bordões da oposição golpista, coisas como "se não tivesse dinheiro desviado por corrupção não ia ter déficit", "não soube administrar e agora a gente que paga", entre outras coisas do gênero.

Eu tentei expor o que acho disso tudo, tentei dizer o que penso a respeito, mas não deu. A conversa virou mal-estar e logo acabou mal.

Fatos:
1. O Brasil realmente precisa recuperar fôlego, precisa fazer caixa;
2. As medidas não se limitam à volta da CPMF, estão previstos cortes e retenções por parte do governo;
3. A CPMF, que foi criada pelo PSDB e extinta pelo PT, agora talvez seja re-introduzida pelo PT, ok, mas mesmo assim, na época do PSDB era de 0,38% e agora será de 0,2% (quase a metade).

Que fique bem claro: não sou defensor da CPMF, não acho que a crise seja culpa de todos menos do PT. 
Acho sim que o PT tem sua parcela de culpa e que o governo federal do PT tomou decisões ruins; em alguns casos agiu contra seus princípios históricos (mensalão, petrolão, conduta neo-liberal, as alianças para a tal governabilidade) e em outros errou por omissão (perder a base no congresso, deixar Cunha crescer e botar terror, deixar o PMDB trair o governo repetidamente e sem qualquer reação).

Pra mim o governo do PT tinha é que tributar as igrejas, as fortunas, acabar com os super-salários e estudar cortes nos ministérios, e se unir aos movimentos sociais contra as sabotagens do congresso e do judiciário.

Mas mesmo levando em conta o pacote fiscal assim como está, é inegável o progresso que os governos federais do PT proporcionaram ao Brasil e não entendo como tanta gente demonstra não perceber que a crise que o Brasil enfrenta está piorando cada vez mais por conta da campanha golpista que visa desestabilizar qualquer possibilidade de continuidade do governo eleito de Dilma. 
Desde que perdeu a eleição, o PSDB vem deixando muito claro que vai continuar a fazer a oposição mais intensa possível e imaginável.

E assim foi. Essa trajetória começou com um movimento tendencialmente progressista (os protestos contra o aumento da tarifa do transporte público - metrô, trem e ônibus) nas chamadas jornadas de junho de 2013, que logo deram espaço para também uma campanha contra a copa do mundo no Brasil e então "contra a corrupção" (mas só a corrupção de alguns, pois tantos outros continuam cometendo corrupção e os indignados seletivos não se preocupam).

De lá pra cá os setores reacionários de nossa sociedade, dentre os quais a oposição partidária neo-liberal, a grande mídia oligárquica de sempre, parte do poder judiciário, a classe média pretensamente órfã de privilégios - da auto-denominada "família de bem" ciumenta dos programas sociais do PT que promoveram a inclusão de milhões de pessoas que sempre estiveram abaixo etc, eles estão a cooptar a insatisfação iniciada nas jornadas de junho, sem parar, transformando-a em indignação seletiva contra o PT apenas.
E assim está sendo, desde então o que vemos é essa campanha atroz e incessante que provoca um verdadeiro caos, visando desestabilizar o governo federal do PT.

Acontece que ao invés de conseguirem apenas consolidar o golpe contra o governo eleito e acabar com o PT e quaisquer forças progressistas, o que estão conseguindo fazer mesmo é: 
Estão atolando o Brasil numa crise cada vez pior.
O que começou como uma crise política, já se transformou agora numa crise política e também econômica.

Pois bem, mais fatos:
1. Antes dos governos do PT a corrupção não era investigada, o dinheiro roubado não era devolvido e os culpados seguiam impunes;
2. Desde que o PT assumiu o governo os corruptos são investigados como nunca antes na história do Brasil (exceto os corruptos do PSDB e seus aliados que continuam blindados e protegidos pela "justiça brasileira"). Mesmo assim, corruptos e corruptores vem sendo responsabilizados e muito dinheiro já foi devolvido aos cofres públicos, como nunca havia acontecido em toda a história do Brasil.

Você não precisa acreditar em mim, é só se informar.
Aqui alguns exemplos de escândalos de corrupção com fontes claras comprovando o que acabei de escrever:

Antes do PT:
- Caso Luftalla (envolvido: Paulo Maluf com apoio da ditadura militar; prejuízo: R$ 10 bilhões; resultado: nada, impunidade; valor recuperado: ZERO);
-  Caso Jorgina de Freitas (envolvido: Jorgina de Freitas com ligações a PC Farias e Collor; prejuízo: R$ 2 bilhões; resultado: impunidade dos grandões; valor recuperado: ZERO);
Anões do Orçamento (envolvidos: 37 parlamentares dos seguintes partidos: PMDB, PFL, PTB, PP, PPR; prejuízo: R$ 800 milhões; resultado: ninguém preso, apenas 6 cassados; valor recuperado?);
- Caso Banestado (envolvidos: Fernando Henrique Cardoso, Celso Pitta e outras 89 pessoas; prejuízo: US$ 84 bilhões; resultado: nada, impunidade; valor recuperado: ZERO);
Mensalão tucano (envolvido: Eduardo Azeredo, presidente do PSDB; prejuízo: R$ 296 milhões; resultado: nada, impunidade; valor recuperado: ZERO);
- TRT de SP (envolvido: PSDB; prejuízo: R$ 923 milhões; resultado: nada, impunidade; valor recuperado: ZERO);
Caso da Pasta Rosa (envolvidos: militares, José Serra (PSDB), Antônio Magalhães (PFL), José Sarney (PMDB); prejuízo: US$ 2,4 milhões; resultado: nada, impunidade; valor recuperado: ZERO);
- Privataria Tucana (envolvidos: FHC, Serra e PSDB; prejuízo: R$ 124 bilhões; resultado: nada, impunidade; valor recuperado: ZERO).

Depois do governo do PT:
- Mensalão (envolvidos: PT e outros partidos; prejuízo: R$ 55 milhões; resultado: políticos do mais alto escalão do PT investigados, condenados e presos (fato inédito até então); alguém sabe se algum valor foi recuperado?);
- Cartel do metrô (envolvidos: grandes empresas e PSDB; prejuízo: R$ 425 milhões; resultado: nada, impunidade; valor recuperado: ZERO);
- Suiçalão-HSBC (envolvidos: grande mídia e outros tantíssimos poderosos conservadores; prejuízo: US$ 7 bilhões; resultado: nada, impunidade; valor recuperado: ZERO);
Aecioporto de Cláudio (envolvido: Aécio Neves; prejuízo: R$ 14 milhões; resultado: nada, impunidade; valor recuperado: ZERO);
- Operação Zelotes (envolvidos: PP e 74 empresas - bancos, empreiteiras; prejuízo: R$ 19 bilhões; resultado: investigação; valor recuperado: R$ 2 bilhões);
Desvio das verbas da saúde mineira (envolvido: Aécio Neves, PSDB; prejuízo: R$ 7,6 bilhões; resultado: nada, impunidade; valor recuperado: ZERO);
- Petrolão - Lava-Jato (envolvidos: empreiteiras corruptoras, corruptos de carreira e do PT, PSDB, PMDB e de outros partidos; prejuízo: R$ 6,2 bilhões; resultado: políticos do mais alto escalão do PT investigados e presos, enquanto acusados como Cunha e Aécio continuam livres e impunes; valor recuperado: mais de R$ 1,1 bilhão).

Faça as contas:
O déficit no orçamento do governo é de uns R$ 30 bilhões. Com as medidas, o que era déficit se tornará superávit de uns R$ 34 bilhões, e isso sem cortar os principais benefícios sociais.
Então o Brasil terá de volta o controverso selo de "bom pagador" da tal agência de ranqueamento, que trará de volta o mesmo nível de investimento que o Brasil teve do exterior quando "conquistou" o tal selo pela primeira vez em 2008 (no governo do PT).

É o ideal? Nem fodendo.
É a melhor opção? Estou certo que não.
Mas reclamar do PT por conta do ônus da CPMF no momento em que estamos (ou melhor, que fomos colocados) é de uma falta de atenção tremenda.

Ao contrário do que gente "de bem" como Skaf quer fazer crer, a CPMF vai doer mais no bolso dos ricos. 
Primeiro porque a maioria dos pobres nem mesmo usa muito o sistema bancário, e principalmente porque a matemática é simples porém cruel: 
- 0,20% de por exemplo R$ 788,00 (valor de um salário mínimo) é apenas R$ 1,57;
- mas 0,20% de por exemplo R$ 22.151,00 (valor mensal referente a 2014 da aposentadoria de FHC pela USP) é R$ 44,30.
Ou seja, bem diferente...

Acredite, tem gente que ganha muito dinheiro no Brasil (justamente essa gente que quer exterminar o PT com indignação seletiva). 
Ao contrário de tantas outras formas de imposto que conseguem ser sonegadas por quem tem grana e meios (a maioria dessa gente "de bem"), a CPMF é um imposto que todos pagam sem escapar, é um dos únicos meios de fazer com que todos paguem sem sonegação.

4 de setembro de 2015

Retrato ruidoso

Eu morava com minha mulher e nossa pequenina numa quitnete de 38 mt2 na Santa Efigênia, no centro de São Paulo.
Tínhamos saído de um apartamento de 2 quartos no Jabaquara para nos mudamos para lá, em 2012, pois então tínhamos o EC Walden (que ficava na praça da República) e ainda não tínhamos a pequena.

Em julho último, quase três anos depois (nossa pequena com um ano de idade), nos mudamos para um apartamento grande na Aclimação, perto do CCSP.
Como o apartamento estava parado fazia anos, antes de nos mudarmos contratamos prestadores de serviços para restaurar o que precisava no apartamento (recuperar o piso de taco, reformar a cozinha, pintar etc).
Pesquisamos muitos prestadores e negociamos bem e ainda assim gastamos mais de 10 mil reais nisso tudo, um dinheiro que nos está fazendo muita falta.

Nos mudamos e aqui estamos, o apartamento é realmente muito legal, mas menos de um mês após nossa mudança o empreendimento imobiliário Retrato Paulista, que está ao nosso lado e estava parado fazia um tempão, começou a construção de sua torre gourmet em formato feudal (ou melhor, casa grande e senzala), num condomínio de luxo hermeticamente fechado.

Dia após dia, de segunda a sexta, o apartamento onde moramos treme.
Com todas as portas e janelas fechadas, aqui dentro do apartamento o nível de pressão sonora ultrapassa os 100db.
O piso que tinha acabado de ser restaurado e estava lindo, está soltando por conta do tremor constante.
Trabalhar no computador, escutar música ou assistir TV se tornaram uma tortura, a louça na pia treme, às vezes acordo com a cama que treme, sinceramente muitas vezes sinto como se o prédio todo fosse desabar.

Depois que nos mudamos pra cá, e antes da construção começar, logo na primeira vez que chamamos amigos para conhecer nossa casa nova, uma vizinha mal-amada reclamou pois estávamos importunando seu descanso por conta de nosso barulho inapropriado no nosso quintal. Não que ela tenha vindo até nós para conversar civilmente, nada disso, ela apenas soltou alguns grunhidos lá de cima da janela dela mesmo. 
Até mesmo quando só estávamos nós em casa, qualquer ruído cotidiano depois das 21h no quintal já causava os tais grunhidos.

Pois bem, na obra da torre gourmet do Retrato Paulista, logo cedo a partir das 7 da manhã começa o tremor contínuo com aquele ruído ensurdecedor de bate-estaca. Várias vezes o tremor e o barulho prosseguem após o horário comercial e em mais de uma ocasião até mesmo depois da meia-noite (uma vez inclusive saí na rua de pijamas para ver que diabos estava acontecendo).

Pergunta: a vizinhança reclama?
Hehe, nada. Nunca ouvi um pio de reclamação de ninguém. Fico intrigado chegando até a pensar, às vezes, que o inferno seria apenas dentro do meu apartamento!

Quando tínhamos o EC Walden os vizinhos lá reclamavam do incômodo que o barulho dos nossos eventos (shows e discotecagens) causava, então mudamos toda a configuração física do EC Walden, reformamos o porão (inclusive com isolamento acústico) e passamos para lá todos os eventos mais "barulhentos", depois os vizinhos começaram a reclamar por conta do incômodo causado pelo barulho produzido pelos clientes na calçada, então mudamos os horários do nosso funcionamento, abandonando de vez o formato balada e fechando cedo.

A placa em frente ao canteiro aqui diz "mais um empreendimento financiado pelo Itaú". Quanto será que custa um apartamento no Retrato Paulista?
Suponho que seja caro demais, mas o preço maior quem está pagando sou eu (que tive meu piso todo fodido) juntamente com os demais vizinhos que se incomodam com esse tipo de especulação imobiliária - com seu tremor e ruídos insuportáveis e a gourmetização elitista (se é que aqui há mesmo vizinhos que se incomodam; às vezes acho que sou o único).