2 de dezembro de 2015

Indústria da violência e escola ocupada

Estou para escrever um texto sobre a violência, faz tempo já, mas toda vez que começo a escrever, percebo que o resultado final será um texto muito longo e acabo deixando pra lá.
De qualquer forma aqui estou, quem sabe depois eu não consiga usar estes textos mais curtos para compor esse texto mais longo, hehe. 

Acredito na evolução, sou um progressista, tendencialmente de esquerda, mas já deixei pra trás o tempo em que eu odiava o capitalismo; hoje acredito que o capitalismo pode mesmo ser algo realmente aceitável, um passo até mesmo bom na longa caminhada da humanidade, mas desde que preveja e garanta sem exceção o acesso de todas as pessoas aos serviços básicos para uma vida digna e feliz. 

Se o capitalismo for capaz de garantir o mínimo para todos, se todos nascerem com acesso ao mínimo, aí sim poderei enfim apreciar conceitos como meritocracia e liberdade do jeito que os conservadores o fazem. E acredito que sim, é possível. A capacidade humana de produzir riquezas é mais do que suficiente para o capitalismo a que me refiro.
Mas o capitalismo aqui no Brasil não cumpre (e nunca cumpriu) esse papel, pelo contrário.

Quero dizer, o problema não é existir ricos, o problema é que a cada dia continuam nascendo milhões de pessoas que vivem sem acesso aos serviços básicos. 

O que essa situação causa? 
A miséria desses infelizes que, enquanto sobrevivem, observam os outros, nascidos em condições privilegiadas; isso causa revolta e nem todos sabem lidar bem com esse sentimento de revolta.
Enquanto a maioria desses que nascem sem acesso ao mínimo se resigna, se conforma calada - com alguns inclusive conseguindo "subir na vida" (o que é usado pelos conservadores para incentivar a manutenção do sistema), uma minoria se revolta contra o sistema e uma minoria dessa minoria parte para o crime.

Há um monte de crimes diferentes, crimes de vários tipos, mas o crime que mais causa indignação é exatamente o crime comum, onde um bandido ataca o cidadão pessoalmente (por exemplo assassinato, assalto, sequestro, tráfico).

Aqui entra uma faceta ainda pior, presente no capitalismo em vigor na maioria dos países do mundo (há boas exceções em quase todos os continentes).
Além de não garantir o mínimo, o sistema acaba tirando lucro até mesmo da violência, com o agravante de hoje isso acontecer em escala industrial.

Um exemplo gigante disso é o que acontece no Brasil.
Ao mesmo tempo em que pela primeira vez na história do Brasil criminosos ricos (políticos corruptos e empresários corruptores) estão sendo investigados e presos, hoje há também um movimento fortíssimo visando um combate ainda mais violento à criminalidade comum. Isso me parece simbólico.

Sim, tínhamos Gil Gomes e afins, não é algo novo, mas agora perdeu-se aquele ar de bizarrice, os Gil Gomes de hoje são seguidos por pessoas que se consideram moderadas e se tornam candidatos para governar a principal cidade do Brasil.

A percepção que a população tem de termos como justiça e crime é algo muito delicado.
Por exemplo, roubo é crime. Mas quem rouba de ladrão geralmente é visto como menos criminoso do que quem rouba de trabalhador.
Eu poderia me aprofundar, dizendo que essa variedade de percepção é usada e explorada (para manipular a opinião pública), e é mesmo, mas este texto aqui já está longo demais, hehe.

Há um tipo de indústria sendo colocada em prática no estado de São Paulo faz décadas. 
Do mesmo tipo daquela que já está a todo vapor nos EUA, onde a população carcerária é imensa e cresce cada vez mais, onde a educação é para poucos, onde há a pena de morte, onde o porte de armas é incentivado, onde a violência racial segue impune.
É uma bomba-relógio e do jeito que a coisa vai, infelizmente já teremos implantado aqui a todo vapor antes que exploda lá. Pois que vai explodir, isso vai mesmo.
Isso se já não explodiu, pois a situação já é horrível.
Mas, como diria Murphy, tudo pode piorar.

Ao mesmo tempo o governo do estado de SP: 
- promove "reorganizações" no sistema educacional que em nada beneficiam os professores e alunos, pelo contrário, na prática significa fechar salas de aula, causando a superlotação das salas que já existem, e reprime de forma truculenta manifestações legítimas de professores e alunos;
- aumenta a repressão violenta, empreendendo guerras que nunca serão vencidas (afinal violência gera violência), isto é, abre celas, constrói presídios, e equipa e treina a PM para que a PM siga executando nas periferias impunemente e agindo na base do autoritarismo, do medo, do ódio e da corrupção.

São ações coordenadas e articuladas.
Afinal, a indústria da violência movimenta muito dinheiro. 

Dois pontos a serem observados:
- O custo que o estado tem para manter um preso é dez vezes maior do que o custo que o estado tem para manter um aluno estudando.
- A tal guerra ao tráfico de drogas penaliza a sociedade mais do que as próprias drogas, criminaliza o usuário, gera uma montanha de dinheiro ilegal, sem incidência de impostos e sem controle algum, e claro, uma montanha de mortos e presos.
Basta pensar que o secretário estadual da segurança pública é o advogado do PCC...

A PM é resquício da ditadura militar, em países democráticos polícia militar existe somente dentro das dependências das forças armadas para tratar de assuntos exclusivamente internos; o policiamento ostensivo deveria ser feito pela polícia civil, esta sim a polícia que atua nas ruas dos países democráticos - e somente ela, com o intuito de servir e proteger a população.

Num país onde surgiu um educador com a grandeza de Paulo Freire ainda estamos assim atrasados...

Alckmin foi reeleito no primeiro turno, com votação recorde e sem ter ao menos apresentado um plano de governo.
E os paneleiros seguem indignados contra o PT e apenas o PT...

Sinto orgulho dos alunos mobilizados, viva a ocupação das escolas que o Geraldo "reorganização" quer deteriorar ainda mais!