2 de novembro de 2014

Paulista na onda da distopia da indignação seletiva

Seis dias após a reeleição da presidente Dilma, cerca de mil pessoas foram à avenida Paulista protestar contra o resultado das urnas, contra o PT. O ato foi idealizado no facebook e os poucos dos participantes confirmados que acabaram indo até a Paulista portavam cartazes dizendo “Comunismo não! Fora Dilma!”, “Impeachment já”, “O PT é o câncer do Brasil”, "SOS Forças Armadas", “A maior fraude da história”, “Precisamos tirar essa quadrilha do Brasil” etc.

Pois é, tem gente indignada no Brasil, gente que quer "intervenção militar", para tirar do poder um governo eleito democraticamente.
O motivo principal dessa indignação seria a corrupção. Notem bem, a corrupção do PT.

Esse mesmo governo, acusado com os cartazes listados acima, ao invés de abafar toda e qualquer denúncia de corrupção política envolvendo membros de seu partido, como acontecia antes de 2003, levou adiante as investigações e, quando comprovado algum ato de corrupção, assumiu as consequências.
Um caso exemplar é o chamado mensalão do PT, onde o julgamento e as condenações aconteceram, como nunca tinha acontecido na história do Brasil.
Já o mensalão do PSDB, que aconteceu antes, até hoje nunca teve os envolvidos punidos, foi abafado e continua sendo esquecido propositalmente a caminho da prescrição.

A operação Lava Jato, da Polícia Federal, que investiga a Petrobras, é mais um exemplo de como o governo federal não abafa os escândalos de corrupção como acontecia antes.
As investigações estão correndo e em caso de comprovação de crimes, devemos acompanhar para que os criminosos sejam punidos dentro da lei.
No site da Polícia Federal você encontra as operações por ano (aqui: http://www.dpf.gov.br/agencia/estatisticas), antes de 2003 nem existem dados. Em 2003 foram 9 operações para investigar atos de corrupção, esse número foi subindo ano a ano, a ponto de termos entre 2008 e 2012 mais de 200 operações por ano.
Mas não adianta somente o governo federal se preocupar em combater a corrupção, as outras esferas do executivo (estados e municípios) não acompanharam essa mudança em termos de fiscalização. Além disso, há outra questão: os outros poderes (legislativo e judiciário) são seletivos na hora de investigar, julgar e punir. Existe uma resistência tremenda dentro desses poderes para que tudo volte a ser como era antes, com os escândalos de corrupção abafados e os crimes prescrevendo.
O resultado disso é que somente uma parte dos atos de corrupção acabam sendo investigados e julgados, justamente aqueles envolvendo gente atrelada a esse governo que tenta combater a impunidade...
É preciso entender que a corrupção não aumentou nos governos do PT, o que aumentou foi a fiscalização com decorrentes ações para a punição dos corruptos por parte do governo federal.

Aumentou também a exposição da corrupção por parte da grande imprensa, porém de forma seletiva e leviana. Um exemplo é o caso da matéria de capa da Veja às vésperas da eleição presidencial acusando a presidente Dilma e o ex-presidente Lula de participação nos atos de corrupção na Petrobras. Essa mesma revista nunca deu esse destaque para a denúncia contra o então presidente do PSDB que supostamente estaria envolvido em atos de corrupção milionários que teriam acontecido na mesma Petrobras, no mesmo período.
Qualquer um pode fazer denúncias, qualquer um pode sofrer denúncias, é para isso que serve a polícia e o judiciário numa democracia: para investigar e julgar as denúncias.
A revista Veja, sim, cometeu um crime, evidente. Essa matéria de capa não apresenta prova alguma do envolvimento de Dilma e Lula em qualquer ato de corrupção, teria sido uma declaração do doleiro, sob delação premiada (que deveria correr em sigilo judicial).
O próprio advogado do doleiro desmentiu qualquer acusação envolvendo Dilma ou Lula. Quem acredita na Veja, ignora o fato que a revista foi condenada pelo TSE a publicar direito de resposta ao PT. Um veículo jornalístico não pode enganar os eleitores com propaganda partidária travestida de jornalismo investigativo.

Claro que o PT tem deficiências e problemas, oras; mas qual partido não tem deficiências e problemas?
Essa demonização do PT cega. Ao invés de mantermos o foco nas propostas em busca do melhor para o país, estamos nos submetendo a essa situação de fragmentação com demonstrações de ódio, e mentiras.
O PT foi eleito para governar o país e deve ser fiscalizado e cobrado para que cumpra seu programa e melhore a vida dos brasileiros. Não devemos perder o foco, há muito por se fazer ainda, o PT deve isso para o povo brasileiro e devemos todos acompanhar e cobrar.

Essa gente que demoniza o PT não está buscando justiça, está querendo golpe de estado, o justiçamento com as próprias mãos. Quer dizer, com as mãos dos militares.

Faz um tempo já, que muita escola em nosso país vem ensinando para nossas crianças que não existiu ditadura no Brasil, que houve sim apenas uma intervenção, um regime militar...
Isso é muito grave, pois essas crianças crescem.
E é mentira, o Brasil sofreu sim um golpe militar em 1964, quando os militares tiraram do poder o legítimo presidente da república, João Goulart.
Por quase vinte anos no Brasil tivemos CORRUPÇÃO desenfreada, perseguições políticas, cassação de direitos, censura, prisões arbitrárias, tortura, assassinatos de cidadãos que não tinham sido julgados por crime algum, por parte de agentes do estado, dentro de repartições públicas.

Tem muita gente hoje que nunca teve que pagar suas contas em cruzeiro, ou cruzeiro novo, ou cruzado, ou cruzado novo, ou cruzeiro real...
Sim, muita gente que não sabe quão pior já foi o Brasil.

O Plano Real foi bom para o Brasil e o PT na época foi contra o Plano Real, parabéns FHC, por ter contribuído para a estabilidade de nossa moeda.
Mas desde 2003 o PT vem mantendo essa conquista do Plano Real, ou seja, essa história de “PT comunista”, de “PT terrorista”, não tem cabimento.
Mais, os governos do PT além de terem mantido o Plano Real, evoluíram o quadro geral do país.
A inflação média nunca foi tão baixa antes. Nunca tivemos uma taxa de desemprego tão baixa. Nunca tivemos um salário mínimo tão alto. Nunca tivemos tanta gente na faculdade, viajando de avião, comprando carro. Nunca tivemos tanta gente, como costumamos dizer, melhorando de vida.

E o principal, nunca na história do Brasil houve tanta disposição no combate à miséria que assolava milhões de brasileiros nos rincões de nosso país e nas periferias de nossas cidades; miséria essa que nos envergonhava internacionalmente e que impedia o desenvolvimento do país como um todo.
Foram dezenas de milhões de pessoas tiradas da miséria com programas sociais inteligentes e justos. Muita gente critica e demonstra ódio quando se fala nesses programas sociais dos governos do PT, o que é espantoso, pois o candidato derrotado na eleição, Aécio, disse a campanha toda que manteria todos os principais.

Para quem não acredita que existiu uma ditadura militar no Brasil, aqui um filme muito importante: Utopia e Barbárie. https://www.youtube.com/watch?v=brzyIJ27TAI
Assisti recentemente num canal a cabo, foi justamente o contraste entre o que vi na Paulista e o que vi no filme que me empurrou para escrever isto tudo aqui.

Gente, ainda há muito para melhorar, muito para evoluirmos enquanto sociedade e país.
Eu sei, essa gente dos cartazes acima, essa gente é pouca e, numa democracia, tem de haver espaço para qualquer tipo de manifestação, por mais esdrúxula que seja a ideia apresentada.

Escrevo aqui no único intuito de informar, pois me parece óbvio que se faz necessário mostrar para essa gente que isso que eles querem e alegam ser democracia, olha, não é democracia não.

Sabe, tem gente que luta por uma utopia, errando ou acertando que seja.
Por mais ingênuo que isso possa parecer, ainda me parece infinitamente melhor que lutar por uma distopia.

("distopia", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/distopia [consultado em 02-11-2014]:
substantivo feminino
Ideia ou descrição de um país ou de uma sociedade imaginários em que tudo está organizado de uma forma opressiva, assustadora ou totalitária, por oposição à utopia.)