7 de janeiro de 2016

Padrões

O ser humano instintivamente busca padrões na natureza e condiciona a realidade ao conceito de causalidade. 
Este impulso primordial está por trás de coisas distintas como a religião e a ciência. 

A religião foi por muito tempo o que o ser humano tinha de mais avançado para responder as inúmeras questões delicadas e até então sem resposta. 

Então, há aproximadamente 2600 anos surgiram os primeiros cientistas, numa região chamada Jônia (então parte da Grécia antiga, hoje da Turquia); esses pensadores, também conhecidos como naturalistas, foram capazes de compreender a natureza e a realidade como ninguém antes. 

Alguns exemplos de descobertas deles? 
Ok, vamos lá: sistema heliocêntrico com cálculos das dimensões e distâncias do sol e da lua, marés e eclipses (sim, quase dois mil anos antes de Galileu, Copérnico, Kepler e Newton!), pensamento teórico evolucionista (sim, mais de dois mil anos antes de Darwin!), os fundamentos de matérias tais como filosofia, matemática, astronomia, geometria, cosmologia, paleontologia, metereologia, além de algumas experiências primitivas com magnetismo e esboços teóricos sobre gravidade e física de partículas. Sim, temas extremamente requintados e tratados hoje em dia.

Aqui os nomes de alguns dos principais desses sábios: Tales, Anaximandro, Anaximenes, Xenófanes, Heráclito, Epícuro, Anaxágoras, Arquelau, Diógenes, Aristarco, Pítaco, Leucipo, Bias, Melisso...

Por conta deles terem usado a racionalização para saciar a curiosidade e obter respostas, ao invés de se submeterem à religião ou à mitologia, foram relegados.

Com a destruição da biblioteca de Alexandria (destruição essa inclusive de motivação religiosa), todo aquele saber, valioso de uma forma indescritível, foi mutilado e banido...
Sabe quais filósofos gregos não foram relegados? Platão e Aristóteles; que ambicionavam a influência religiosa, receosos ao método científico e defendendo absurdos como a escravidão; que foram usados para moldar dogmas das grandes religiões...

Mil e quinhentos anos se passaram até que o pensamento científico voltasse, e desde então a humanidade vem desenvolvendo novamente a ciência para compreender melhor a natureza e a realidade, com resultados impressionantes.

Mas apesar disso ainda há várias perguntas importantíssimas e delicadas que seguem sem resposta. 
Há quem acredite que o ser humano nunca será capaz de saber a resposta para tudo, ou que ao descobrir a resposta para tudo o ser humano se transformará em outra coisa, há outros que acreditam que a ciência não passa de outra forma de religião...

Ontem no caralivro comentei num post da ótima página Quebrando o Tabu justamente sobre ciência (e religião).
Hoje coincidentemente recebi uma notificação sobre uma palestra TED que pretendo legendar para o português e logo depois vi num documentário da BBC falarem do chamado junk DNA.

Para além das observações triviais sobre a semelhança de formas geométricas na natureza em escalas tão diferentes, como por exemplo o mesmo desenho de espiral num caramujo e numa galáxia, este texto aqui veio da minha observação sobre como há padrões distribuídos na natureza de forma intrigante, tais como:

No interior dos sistemas estelares o que mais existe é espaço vazio; o sistema solar tem mais de 22 bilhões de quilômetros de diâmetro e mais de 99% disso é vazio (o sol responde por mais de 99% da massa total do sistema solar). 

No interior dos átomos (um fio de cabelo humano tem cerca de um milhão de átomos de largura), o que mais existe é espaço vazio. Os elétrons não têm dimensão que possa ser medida e movem-se num espaço vazio ao redor do núcleo. Só uma trilionésima parte do átomo está cheia de matéria. 

A matéria nuclear tem uma densidade inimaginável: uma colher de café cheia dessa matéria pesaria um bilhão de toneladas e se uma maçã fosse ampliada para o tamanho da Terra, os átomos teriam aproximadamente o tamanho da maçã original. 
E apesar disso, sobra muito espaço vazio dentro do átomo. 
Como é possível?
Isso me faz lembrar da palestra TED sobre física de partículas de um cientista italiano do CERN cuja legenda em português é minha (a legenda ainda precisa ser revisada e aprovada).

Somente 5% do DNA humano é útil e somente 5% da matéria no universo é bariônica
Por que não encontramos a utilidade dos 95% restantes de nosso DNA? Por que não conseguimos enxergar os 95% restantes da massa do universo?

O termo teia cósmica é usado para descrever a maneira pela qual as galáxias se distribuem no universo observável. Vistas de longe, elas estruturam-se em linhas que se cruzam e se conectam.
Essa é a mesma estrutura do nosso cérebro.

Nosso cérebro possui cerca de 90 bilhões de neurônios, o universo possui cerca de 90 bilhões de galáxias em seus 90 bilhões de anos-luz de diâmetro e cada uma dessas galáxias possui em média cerca de 90 bilhões de estrelas...

Padrões, sempre procuramos e enxergamos padrões.

Se a ciência for mesmo uma nova forma de religião, como dizem alguns, que seja! Pois levando em conta as grandes religiões dogmáticas, olha, a ciência é uma evolução e tanto!

O problema é como as grandes religiões se apoderaram da espiritualidade para fins materiais através de dogmas; a espiritualidade não é um problema, pelo contrário, muitos cientistas sentem espiritualidade.

Que a curiosidade persista!

19 de dezembro de 2015

Amén

O que dizer de uma seita chamada A Igreja do Monstro de Espaguete Voador?
Parece brincadeira, mas não, é de verdade mesmo.

Como diz O Globo, a seita macarrônica nasceu nos EUA como uma resposta ao governo de George W. Bush, que proibia o ensino da teoria da evolução nas escolas públicas
O Globo ainda diz que a controvertida igreja, também conhecida como Pastafari, é um movimento social que promove uma visão mais leve da religião e se opõe ao ensino do criacionismo nas escolas públicas.

O fiel Niko Alm já tinha tido reconhecido do governo da Áustria, em 2011, o direito de endossar um escorredor de macarrão na cabeça na foto da sua carteira de motorista, e agora em dezembro de 2015 o governo da Nova Zelândia conferiu autorização à igreja para realizar casamentos.

Haha, sensacional, né?!
Demorou demais para alguém aqui no Brasil ter a ideia de fundar uma religião para a catuaba ou a cachaça.

Mussum poderia ser o equivalente a um patriarca.
Copinho de shot ou garrafa poderia se tornar símbolo religioso.

Cerimônias como nascimento (onde os genitores e convidados comemoram), batismo - que seria unificado com primeira cumunhão (somente para 18+), casamento, divórcio, extremunção e velório seriam muito melhores, haha.

Queria ver como, por exemplo, os cristãos iam se comportar quando um fiel estivesse pregando a fé da catuaba ou da cachaça, sabe, o tal respeito à fé religiosa...

Sem falar na prosperidade de tal religião, primeiro por conta do grande número de novos fiéis, e claro, por conta de todas as isenções fiscais e benefícios financeiros destinados às religiões.

Brincadeiras à parte, a superação do esquema em que se baseia todas as grandes religiões do mundo hoje, isto é, dogmas + poder temporal, pode sim ser iniciada por dentro!
A criação de uma nova religião, humanista, pacifista e encarando a própria ciência como deus, serviria para garantir o ensino da evolução nas escolas e a formação de sujeitos ao mesmo tempo espiritualizados (ou seja, não discriminados pelos religiosos fundamentalistas por conta do tal ateísmo "maligno") e dotados de pensamento crítico, o que só pode ajudar rumo a uma futura sociedade melhor; e proporcionaria também um novo nível de alcance da ciência em nossa sociedade hoje mesmo - um alcance muito maior, com projetos muito maiores, mais numerosos e financeiramente muito mais fortes, não apenas por conta da opinião pública, mas também por conta das isenções fiscais e benefícios financeiros que as religiões desfrutam, proporcionando resultados impressionantes, inovando e levando a humanidade a novos patamares de conhecimento e bem-estar, congregando milhões e milhões de pessoas que hoje se perguntam sobre as incoerências e intransigências das religiões, pessoas que sonham com um mundo melhor, mas que não conseguem deixar para trás o medo e a culpa, embutidos pelos dogmas religiosos.

Para uma religião cujo templo máximo seja por exemplo o CERN (ao invés do vaticano etc), cujo requisito para ministrar seja o estudo da natureza, da existência, da realidade e do universo ou a pesquisa científica com valores humanistas, cuja organização automaticamente previna a possibilidade de exercício de poder temporal - respeitando a laicidade do estado - e de enriquecimento ilícito de seus ministros, cujos dogmas sejam o amor, a justiça e o respeito a todos os seres humanos, ao meio-ambiente e o método científico, eu diria amén!

13 de dezembro de 2015

Cobertura

Os movimentos de direita a favor do impeachment de Dilma e extermínio do PT escolheram a data de hoje, aniversário do AI-5, para sair às ruas de forma conjunta com seus carros de som, bonecos infláveis gigantes e as faixas pedindo intervenção militar.

Em todos os estados onde houve a manifestação do impeachment hoje, sem exceção, o número de pessoas protestando foi minúsculo; inclusive menor do que na manifestação anterior desses mesmos movimentos, que já tinha sido insignificante.
As manifestações de esquerda costumam reunir um número muito maior de pessoas e toda vez o que vemos na grande mídia é apenas uma chamada rápida.

Hoje no Jornal GloboNews edição das 18h, ao invés da típica chamada de dois minutos ou menos quando há manifestações de esquerda, foi ao ar uma cobertura farta para tratar da manifestação pelo impeachment, com direito a âncora em tom de editorial, dois comentaristas, matérias dedicadas com equipes de reportagem em mais de 15 locações e infográficos detalhando a cronologia das manifestações, totalizando 23 minutos de transmissão.
Sim, do total de 32 minutos, que foi a duração total do telejornal, os 23 iniciais foram assim.

Inacreditável, né?
Se tiver estômago forte, veja aqui.
Imagino como será o Jornal Nacional...

Hoje houve outro evento de grande porte em São Paulo, o 3º Festival de Direitos Humanos. Apesar de ali haver 70 mil pessoas participando, aproximadamente o dobro do que na manifestação pedindo impeachment, nenhum dos veículos da grande mídia noticiou; a cobertura foi zero.

Já dia 16 agora haverá outra manifestação na avenida Paulista, desta vez contra o impeachment e a favor da cassação de Cunha. Imagino que tipo de cobertura a grande mídia vai destinar...

Sou muito feliz por ter visto o nascimento da internet. Sem a internet ainda seríamos obrigados a depender da grande mídia como fonte de informação.

2 de dezembro de 2015

Indústria da violência e escola ocupada

Estou para escrever um texto sobre a violência, faz tempo já, mas toda vez que começo a escrever, percebo que o resultado final será um texto muito longo e acabo deixando pra lá.
De qualquer forma aqui estou, quem sabe depois eu não consiga usar estes textos mais curtos para compor esse texto mais longo, hehe. 

Acredito na evolução, sou um progressista, tendencialmente de esquerda, mas já deixei pra trás o tempo em que eu odiava o capitalismo; hoje acredito que o capitalismo pode mesmo ser algo realmente aceitável, um passo até mesmo bom na longa caminhada da humanidade, mas desde que preveja e garanta sem exceção o acesso de todas as pessoas aos serviços básicos para uma vida digna e feliz. 

Se o capitalismo for capaz de garantir o mínimo para todos, se todos nascerem com acesso ao mínimo, aí sim poderei enfim apreciar conceitos como meritocracia e liberdade do jeito que os conservadores o fazem. E acredito que sim, é possível. A capacidade humana de produzir riquezas é mais do que suficiente para o capitalismo a que me refiro.
Mas o capitalismo aqui no Brasil não cumpre (e nunca cumpriu) esse papel, pelo contrário.

Quero dizer, o problema não é existir ricos, o problema é que a cada dia continuam nascendo milhões de pessoas que vivem sem acesso aos serviços básicos. 

O que essa situação causa? 
A miséria desses infelizes que, enquanto sobrevivem, observam os outros, nascidos em condições privilegiadas; isso causa revolta e nem todos sabem lidar bem com esse sentimento de revolta.
Enquanto a maioria desses que nascem sem acesso ao mínimo se resigna, se conforma calada - com alguns inclusive conseguindo "subir na vida" (o que é usado pelos conservadores para incentivar a manutenção do sistema), uma minoria se revolta contra o sistema e uma minoria dessa minoria parte para o crime.

Há um monte de crimes diferentes, crimes de vários tipos, mas o crime que mais causa indignação é exatamente o crime comum, onde um bandido ataca o cidadão pessoalmente (por exemplo assassinato, assalto, sequestro, tráfico).

Aqui entra uma faceta ainda pior, presente no capitalismo em vigor na maioria dos países do mundo (há boas exceções em quase todos os continentes).
Além de não garantir o mínimo, o sistema acaba tirando lucro até mesmo da violência, com o agravante de hoje isso acontecer em escala industrial.

Um exemplo gigante disso é o que acontece no Brasil.
Ao mesmo tempo em que pela primeira vez na história do Brasil criminosos ricos (políticos corruptos e empresários corruptores) estão sendo investigados e presos, hoje há também um movimento fortíssimo visando um combate ainda mais violento à criminalidade comum. Isso me parece simbólico.

Sim, tínhamos Gil Gomes e afins, não é algo novo, mas agora perdeu-se aquele ar de bizarrice, os Gil Gomes de hoje são seguidos por pessoas que se consideram moderadas e se tornam candidatos para governar a principal cidade do Brasil.

A percepção que a população tem de termos como justiça e crime é algo muito delicado.
Por exemplo, roubo é crime. Mas quem rouba de ladrão geralmente é visto como menos criminoso do que quem rouba de trabalhador.
Eu poderia me aprofundar, dizendo que essa variedade de percepção é usada e explorada (para manipular a opinião pública), e é mesmo, mas este texto aqui já está longo demais, hehe.

Há um tipo de indústria sendo colocada em prática no estado de São Paulo faz décadas. 
Do mesmo tipo daquela que já está a todo vapor nos EUA, onde a população carcerária é imensa e cresce cada vez mais, onde a educação é para poucos, onde há a pena de morte, onde o porte de armas é incentivado, onde a violência racial segue impune.
É uma bomba-relógio e do jeito que a coisa vai, infelizmente já teremos implantado aqui a todo vapor antes que exploda lá. Pois que vai explodir, isso vai mesmo.
Isso se já não explodiu, pois a situação já é horrível.
Mas, como diria Murphy, tudo pode piorar.

Ao mesmo tempo o governo do estado de SP: 
- promove "reorganizações" no sistema educacional que em nada beneficiam os professores e alunos, pelo contrário, na prática significa fechar salas de aula, causando a superlotação das salas que já existem, e reprime de forma truculenta manifestações legítimas de professores e alunos;
- aumenta a repressão violenta, empreendendo guerras que nunca serão vencidas (afinal violência gera violência), isto é, abre celas, constrói presídios, e equipa e treina a PM para que a PM siga executando nas periferias impunemente e agindo na base do autoritarismo, do medo, do ódio e da corrupção.

São ações coordenadas e articuladas.
Afinal, a indústria da violência movimenta muito dinheiro. 

Dois pontos a serem observados:
- O custo que o estado tem para manter um preso é dez vezes maior do que o custo que o estado tem para manter um aluno estudando.
- A tal guerra ao tráfico de drogas penaliza a sociedade mais do que as próprias drogas, criminaliza o usuário, gera uma montanha de dinheiro ilegal, sem incidência de impostos e sem controle algum, e claro, uma montanha de mortos e presos.
Basta pensar que o secretário estadual da segurança pública é o advogado do PCC...

A PM é resquício da ditadura militar, em países democráticos polícia militar existe somente dentro das dependências das forças armadas para tratar de assuntos exclusivamente internos; o policiamento ostensivo deveria ser feito pela polícia civil, esta sim a polícia que atua nas ruas dos países democráticos - e somente ela, com o intuito de servir e proteger a população.

Num país onde surgiu um educador com a grandeza de Paulo Freire ainda estamos assim atrasados...

Alckmin foi reeleito no primeiro turno, com votação recorde e sem ter ao menos apresentado um plano de governo.
E os paneleiros seguem indignados contra o PT e apenas o PT...

Sinto orgulho dos alunos mobilizados, viva a ocupação das escolas que o Geraldo "reorganização" quer deteriorar ainda mais!







18 de novembro de 2015

Fim de semestre - USP

Em 2015 cada semestre na USP conta com mais de 100 dias de aulas. 
A presença nas aulas é obrigatória, ao contrário do que acontece nas universidades italianas (onde a presença nas aulas é facultativa).
Nestas duas semanas, entre 13 e 27 de novembro, estão concentradas todas as principais avaliações deste meu segundo semestre: 4 trabalhos finais e uma prova final. 
Sim, estudo, pesquisa e trampo para cada uma das 5 disciplinas que estou cursando, tudo concentrado.
Haja concentração! Socorro! 
:-D

28 de outubro de 2015

Enriquecimento ilícito

Vamos falar de combate à corrupção?

Mesmo com as estatísticas e informações sobre operações, investigações e processos da Polícia Federal, do Ministério Público, da Controladoria Geral da União e do Supremo Tribunal Federal, que estão disponíveis para todo e qualquer cidadão; mesmo com a repercussão na imprensa; mesmo com as prisões e condenações, inéditas, de corruptos do alto escalão no processo do mensalão; e mesmo com a prisão, inédita, de corruptores (além de corruptos), através da Lava-Jato, ainda tem um monte de gente que não acredita que antes do começo dos anos 2000 os escândalos de corrupção acabavam em pizza e que isso começou a mudar de lá para cá.

É incrível, mas somente em 2013 um governo federal teve a decência de sancionar uma lei anticorrupção no Brasil.
Ainda há muito a fazer para um combate mais efetivo à corrupção mas é inegável que agora a PF e o MP trabalham com autonomia e sem freios, que o STF não se permite mais ao arquivamento vergonhoso de todo e qualquer processo envolvendo corruptos poderosos e que o CGU hoje não é mais o "engavetador geral".

Temos um desafio e tanto pela frente, que é levar a justiça para todos, ou pelo menos para gente de todas as esferas e de todos os segmentos, pois hoje a justiça no Brasil é apenas para alguns. Isso é muito grave, causa males para muitas pessoas e atrasa nossa evolução. Mas meu texto aqui é sobre algo que, mesmo que indiretamente, acabaria influindo também neste problema da falta de justiça para todos.

Bom, vamos lá:
Ao invés de se fazer campanha contra a corrupção com bonecos infláveis e bateção de panela, apenas exigindo a queda do governo federal - ou seja, a troca das pessoas sem o aprimoramento do sistema -, por que não há por exemplo uma campanha para a tipificação do enriquecimento ilícito?
No código penal temos apropriação indébita (art. 169), estelionato (art. 171) e tantos outros crimes ligados à corrupção, mas falta o enriquecimento ilícito.

Pois, além da precarização (ou ausência) de serviços ou do descenso a direitos e todos os problemas decorrentes a quem tem a vida prejudicada por isso, afinal, qual é o sinal (e ao mesmo tempo o fruto) da corrupção?
Sim, o enriquecimento ilícito.

O enriquecimento ilícito é muito simples de se definir e de se identificar:
Imagine que o salário do João, um cidadão qualquer, seja de dez mil reais por mês e que na declaração de IR dele conste um patrimônio de mais de cinco milhões de reais; imagine ainda podermos ver claramente que o patrimônio do João é maior ainda do que o declarado.

Duas coisas estão muito erradas nesse caso:
1. Um patrimônio de mais de cinco milhões de reais é incompatível para alguém com salário de dez mil reais;
2. Se o patrimônio de João é ainda maior do que o declarado, opa, isso também aponta crime de sonegação.

A menos que o João seja o feliz herdeiro de alguma fortuna ou ganhador da loteria, isso tem nome: enriquecimento ilícito.

O chamado 'enriquecimento sem causa' já existe em nossa legislação, mas é algo risível, primeiro porque a lei considera um mal menor, tanto que se encontra no código civil, e principalmente porque a lei hoje diz que o delito de 'enriquecimento sem causa' existe somente quando um indivíduo aufere vantagem indevida em face do empobrecimento de outro, ou seja, atrelando a tal vantagem indevida a uma relação causal onde é obrigatória a presença de um indivíduo nomeadamente prejudicado numa correspondência única.

A caracterização que nossa lei dá hoje para 'enriquecimento sem causa' é restrita demais e impede a identificação e a punição de quem acumula riquezas de forma ilegal. A lei brasileira trata o 'enriquecimento sem causa' como algo relacionado a estelionato ou apropriação indébita, sempre em relação intrínseca a algum outro indivíduo lesado, e não como enriquecimento ilícito em sí, isto é, como acúmulo de riqueza sem proveniência comprovada.

Na França, por exemplo, a Lei 2006-64 prevê o crime de “não justificação de rendimentos”.
Já aqui no Brasil ainda é essa "festa"...

Mas espera, é só fazer uma pesquisa na internet para ver que há sim gente tentando trazer o tema da tipificação do enriquecimento ilícito no Brasil!
E quem seriam essas pessoas?
E quando é que começou a se discutir essas ideias de tipificação do enriquecimento ilícito?

Para começar falo de Hadadd. 
O prefeito de São Paulo anunciou agora em 2015 um decreto que prevê demissão para todo e qualquer funcionãrio público municipal que não seja capaz de explicar a sua evolução patrimonial.

Sensato, não? Por que cargas d'água ninguém fez algo desse tipo antes de Hadadd?
Nesse caso o João do exemplo acima estaria demitido, simples assim. 
Mas apesar de ser um primeiro passo importante, ainda é pouco, pois além de ser demitido, o corrupto deveria devolver aos cofres públicos tudo que acumulou indevidamente e ainda responder penalmente.

E é justamente isso - a tipificação visando a responsabilidade criminal do corrupto que enriqueceu ilicitamente, como já acontece em outros países, além da devolução compulsória dos valores incompatíveis (com multa e correção) - que vem sendo defendido por especialistas, como membros da CGU. 

Essa tipificação, objeto deste meu texto aqui, vem sendo denominada de 'criminalização do enriquecimento ilícito'.
Agora em 2015 há duas iniciativas louváveis:
1. Neste momento está tramitando o Projeto de Lei do Senado (PLS) 35/2015, que prevê a criminalização do enriquecimento ilícito, de autoria de Humberto Costa, do PT;
2. O MPF propôs um pacote anticorrupção que contempla o projeto de lei acima.

E onde estão os indignados contra a corrupção, que não protestam sobre isso?
Se a luta é contra a corrupção, a questão do enriquecimento ilícito é algo fundamental. 

Claro que ainda vai faltar trazer a justiça para todos, universalizar a justiça no Brasil, para combater a impunidade, mas de qualquer forma criminalizar o enriquecimento ilícito só trará benefícios para a sociedade em geral.

23 de outubro de 2015

Herança senhorial brasileira

Entreguei hoje o trabalho de IEL na USP, sobre o conto O Caso da Vara de Machado de Assis.

Reproduzo aqui o último parágrafo do meu trabalho:
"Ainda seriam necessários mais de cem anos a partir da publicação do conto para que algumas iniciativas (Lei de Cotas, Estatuto da Igualdade Racial) em prol dessas reformas sociais fossem finalmente postas em prática pelos poderes do Estado brasileiro, e mesmo que ainda restritas e incompletas, causam hoje uma divisão em nossa sociedade, entre os que defendem essas reformas sociais e aqueles que não reconhecem a necessidade delas, fazendo crer que o fato da grande maioria da população carcerária e dos habitantes das periferias e favelas ser composta de mulatos – descendentes dessas pessoas retratadas por Machado, como a personagem Lucrécia – é apenas uma coincidência, ou pior, um destino merecido para quem por vontade própria não vive decentemente e/ou não prospera por preguiça, perpetuando o modo de pensar típico da personagem Sinhá Rita."

Ontem escrevi aqui no blog sobre como a entrevista do prof. Christian Dunker na Fórum me agradou e me fez pensar em meu trabalho de faculdade, mas hoje me deparei no caralivro com uma postagem no mural de um amigo virtual sobre a análise recente do jornalista Alexandre Garcia na TV Globo sobre o SIMPLES Doméstico... Assista aqui abaixo:



Para Alexandre Garcia o Brasil não era racista, o racismo começou recentemente porque foi institucionalizado pelo governo, com as cotas. 
Para Alexandre Garcia todos os seres humanos compõem uma única raça, que ele denomina "raça humana".  
Para Alexandre Garcia o Brasil é transgênico.
Para Alexandre Garcia o preenchimento do formulário do SIMPLES Doméstico com a pergunta sobre a raça/cor das empregadas é um desrespeito, pois é somente perda de tempo e portanto o Estado brasileiro hoje é autoritário porque usa de burocracia para atrasar a vida dos contribuintes, eleitores.
E após a análise de Garcia o âncora Chico Pinheiro fecha com "Simples assim, Alexandre, obrigado".

A ideia deste post aqui veio do timing perfeito entre meu trabalho de faculdade, a entrevista do prof. da USP na Fórum e agora essa análise velhaca do Alexandre Garcia em rede nacional na TV Globo. Essas três coisas, distintas, tocam no mesmo ponto: a herança senhorial brasileira que atrapalha nossa evolução.

Alexandre Garcia, homem, branco, bem-nascido na classe média que teve acesso a uma formação acadêmica em universidade católica e privada, contratado pelo Banco do Brasil e depois pelo Jornal do Brasil para fazer cobertura jornalística das ditaduras militares do Uruguai, Argentina e Brasil, acompanhando de perto o dia-a-dia dos ditadores, foi inclusive assessor de comunicação, secretário de imprensa e porta-voz do general Figueiredo, o último ditador do regime militar conservador e autoritário que afundou o Brasil em corrupção, censura, violência institucionalizada e falso moralismo desde o golpe de 1964; realmente seria difícil para alguém como ele fazer uma análise menos reacionária...

Então vamos lá:

Se o Brasil é mesmo transgênico, como diz Garcia, quem poderíamos responsabilizar pela introdução das outras etnias para a composição miscigenada da população de nosso país atual?

Os índios já estavam aqui e foram escravizados.
Os negros vieram para cá contra a vontade deles, cativos, para serem escravizados no lugar dos índios (que tinham sido quase inteiramente exterminados).
Quando finalmente decidiram abolir a escravatura, imigrantes de várias partes da Europa foram chamados para substituir a mão-de-obra escrava (ou seja, ao invés de passarem a pagar salários aos negros pelo trabalho que já faziam antes como escravos, preferiram pagar salário para os imigrantes deixando os agora ex-escravos à margem, "a deus dará").

Preciso dizer que foram os brancos
Sim, foram os brancos. 
Sabe, os brancos, a gente branca cristã que veio de Portugal e se tornou a elite que comandou o Brasil em todas essas barbaridades citadas acima.

Não existe uma só raça humana. Existe uma só espécie humana, homo-sapiens, mas a nossa espécie é dividida em pelo menos quatro raças (que também podem ser subdivididas). 
Antes pensava-se em termos biológicos para se fazer a definição de raça, mas hoje a abordagem é através de parâmetros sociais.
Inclusive os termos mais usados hoje são outros, como por exemplo etnia.
Mas a definição de racismo segue firme e forte: preconceito e discriminação com base em percepções sociais baseadas em diferenças biológicas entre os povos. 

Racismo é o que acontece por exemplo quando Hitler e a Alemanha nazista decidem exterminar os judeus da face da Terra, ou quando os negros africanos são capturados para servirem de escravos nas colônias européias nas Américas (que se tornariam países antes de abolir a escravatura)... 

Os exemplos de racismo são tantos, tantos... 
Mas nos dois exemplos aqui o racismo persiste ainda hoje, por mais que os nazistas tenham sido derrotados na segunda guerra mundial e por mais que a abolição da escravatura tenha sido declarada em toda parte nas Américas. 

O que aconteceu foi que o racismo deixou de ser institucionalizado, deixou de ser oficial, diminuiu, mas não acabou por completo.

O tempo vai passando, as pessoas vão nascendo, vivendo, se misturando, convivendo, morrendo... As diferenças vão se tornando parte da vida e as formas de racismo no dia-a-dia vão se transformando e fixando...

Para que o racismo nos meus dois exemplos pudesse mesmo acabar deveria ter havido uma reparação por parte dos racistas lá atrás, por parte do Estado de então.
Quer dizer, mesmo assim ainda poderia haver um ou outro racista sem noção perdido hoje, mas imagina sem reparação por parte do Estado então...
O fato é que ainda há gente racista que admira o nazismo... Ainda há gente que acha que "negro se não caga na entrada caga na saída"...

Voltando ao SIMPLES Doméstico:
O Alexandre Garcia e tantos outros (como a pessoa que comentou no caralivro) acreditam, ou fazem crer, que o fato de questionar a população sobre raça/cor é que torna o Estado racista.

Puxa, pra mim escravizar pessoas de uma ou outra determinada cor ou raça por séculos é o que faz um Estado racista...

Pra mim abolir a escravatura sem alfabetizar os escravos (pois então só tinha direito a voto quem fosse alfabetizado), não pensar em mecanismos para incluir esses agora ex-escravos na sociedade do mesmo jeito que os brancos estavam inseridos, para que todos tivessem acesso ao mínimo para uma vida justa e confortável convivendo em harmonia, isso sim é o que faz um Estado racista.

Pra mim deixar esse monte de ex-escravos à sua própria sorte, cidadãos de segunda classe, sem direito a voto e marginalizados (qualquer hora vou escrever sobre a história do voto no Brasil), gerando milhões de descendentes que nascem, crescem, se reproduzem e morrem sem acesso aos mesmos serviços e possibilidades que os outros que nunca foram escravos sempre puderam contar, isso sim é o que faz um Estado racista.

Pior ainda, um Estado que nunca teve a coragem de assumir que, depois de tudo isso que apontei acima, por mais de cem anos, fingiu que apenas o fato de ter havido a abolição já estava de bom tamanho e que tudo se resolveu como num passe de mágica, isso sim é um Estado racista.


Agora, um Estado como o nosso desde o começo dos anos 2000, que finalmente decide encarar a questão de frente e desenvolver iniciativas como a lei que obriga o registro em carteira dos trabalhadores domésticos, o sistema de cotas, de políticas afirmativas, para incluir pelo menos uma parte dos muitos milhões de descendentes daqueles escravos, pra mim este Estado é justamente o contrário de racista, é humanista.

O Estado que teve a coragem de assumir a responsabilidade que durante mais de um século foi vergonhosamente ignorada é justamente o de Lula e Dilma (por mais que eles também tenham cometido falhas em outras esferas).
Por isso que não me admira ver a dondoca, mais branca que não-branca, na varanda mandando a empregada doméstica, mais mulata que não-mulata, bater a panela por ela para protestar contra a corrupção...
É pra essa gente que o Alexandre Garcia destila suas análises, visando o esquecimento da questão raça/cor no Brasil.
Mas hoje a discussão sobre a questão raça/cor no Brasil está lançada e não há mais como fingir que está tudo bem, é preciso trabalhar isso e superar, afinal a evolução não pára. Ou evoluímos enquanto espécie, mesmo que entre altos e baixos (neste caso acabamos de passar por um "baixo" de mais de cem anos), ou então a humanidade acaba, simples assim.

21 de outubro de 2015

Machado Dunker: O Caso da Vara e do não-luto

Estou terminando o trabalho de Estudos Literários para a faculdade, sobre o conto O Caso da Vara de Machado de Assis, para entregar amanhã.

Enquanto participava de uma discussão política com alguém que não conheço, na linha do tempo do perfil de um amigo virtual no caralivro, me deparei com a entrevista com o professor Dunker que a Fórum publicou recentemente.

E encontrei relação entre o que Machado de Assis apontou com o conto lá em 1891 e o que Christian Dunker aponta na entrevista agora em 2015.

Saca só este trecho aqui da entrevista: 
"(...) essa distribuição senhorial dos bens simbólicos, justiça, saúde, educação, é algo colonial no Brasil e nunca foi de fato enfrentada (...)".

Meu trabalho sobre O Caso da Vara segue justamente esse tom.
:)

20 de outubro de 2015

Depois de dois meses sem celular

Depois do meu relato aqui cheguei mesmo a pensar em ficar sem celular indefinidamente. Aliás cheguei a me sentir bem sem celular! :)
 
Eis que agora tenho novamente um celular.
Domingo agora passamos a tarde em família, meu pai achou um celular antigo, guardado na casa dele, e me passou, mas eu que primeiro tinha um iphone e que então fiquei sem celular algum por esses dois meses, agora tenho um celular daqueles bem simples, sem internet, somente para telefonar mesmo...

Acontece que o iphone pra mim era justamente importante por conta da possibilidade de usar a internet e de tirar fotos e gravar áudio e vídeo, pois eu não gosto de falar ao telefone.
Quando fui à loja da Tim recuperar meu número e comprar um novo chip, chamei meu novo celular de "celular dos Flintstones", o que provocou o riso da caixa. 
Claro que estou muito grato ao meu pai, mas o mais importante nessa história toda foi que, ao ter deixado pra trás meu número por absoluto desconhecimento do que fazer numa situação daquelas, acabei descobrindo que meu plano continuou a ser debitado do meu cartão e que mesmo assim meu saldo estava zerado!

Ou seja, a pessoa que está com meu celular esteve usando meu número e gastou todo meu saldo nesses dois meses.
Obviamente perguntei ao atendente se ele poderia rastrear o aparelho a partir desse uso dos meus créditos, mas fui informado que somente a polícia pode realizar esse rastreamento...

Agora preciso ir até a delegacia, porque mesmo eu tendo feito um Boletim de ocorrência pela internet, a polícia se recusa a me atender por email ou telefone. Perderam tempo pra me responder meus emails somente para me dizer que eu deveria ir até a delegacia para tratar de qualquer assunto referente ao meu BO eletrônico...

Enfim, a aventura continua. :) 

13 de outubro de 2015

Os parlamentares e o eleitorado do Brasil segundo o Datafolha

Antes de falar sobre a pesquisa do Datafolha, uma geral:

O Brasil tem 26 estados e um distrito federal, além de 5570 municípios, e é governado por três poderes em teoria constituídos, soberanos e independentes: executivo, legislativo e judiciário.


O poder executivo é liderado por um presidente, 27 governadores e 5570 prefeitos.

O poder legislativo é liderado por 81 senadores, 513 deputados federais, 1059 deputados estaduais (ou distritais) e mais de 57 mil vereadores.
O poder judiciário é liderado por cerca de 20 mil juízes. 

Ao contrário do executivo e do legislativo, com membros eleitos por voto popular (dos eleitores), o judiciário é composto por membros sem a escolha da população (o acesso ao judiciário se dá através de concursos); o entendimento é que o judiciário é um poder apartidário...


O judiciário tem duas funções principais: jurisdicional (a aplicação do direito ao caso concreto com o objetivo de solucionar os conflitos de interesses, resguardar a ordem jurídica e a autoridade da lei) e administrativa (no trato de seus assuntos internos e eventualmente no processo legislativo por iniciativa de leis); além de fiscalizar os outros dois poderes.

Para discorrer sobre o que em teoria deveria ser o judiciário em todas as suas esferas e sobre o que vemos na prática, eu deveria escrever um artigo próprio.

O executivo administra, fornecendo serviços à população e o legislativo elabora e aprova as leis e fiscaliza o executivo.

Nas esferas estadual e municipal o legislativo é unicameral, ao contrário da esfera federal...

congresso nacional é o órgão do poder legislativo na esfera federal e é bicameral, isto é, formado por câmara dos deputados e senado.

Cada um desses órgãos exerce o mesmo poder, duas vezes. Parece redundante? Pois é...
Mas você sabe quem o congresso representa?

É uma boa pergunta (vide o problema do financiamento de campanhas), mas em teoria a câmara dos deputados federais representa o povo brasileiro.

E o senado? 

Pois bem, se você acha que senado representa o povo, está enganado. 
Historicamente o senado representa a nobreza, os lordes... No Brasil o senado representa as unidades federativas (estados e distrito federal).

Enquanto a câmara federal observa a população dos estados para sua composição, obedecendo o critério de proporcionalidade, o senado é composto por 3 membros por estado, independentemente da população de cada estado. 

Ou seja, os 513 deputados federais que em teoria representam o povo exercem o mesmo poder que os 81 senadores representando seus estados.

Mesmo sem entrar no campo das críticas aos supersalários e dos tantíssimos benefícios (e eu considero uma afronta absurda essas regalias todas), acontece que as unidades federativas já dispõem de suas próprias assembléias de deputados, assim como os municípios com suas câmaras de vereadores.

Por que o legislativo federal necessitaria de representantes dos estados (os senadores) e o legislativo estadual não necessita de representantes dos municípios? 
Pois é, o bicameralismo é mesmo algo elitista e onerosamente burocrático.

Não é por acaso esse sentimento de falta de representatividade e credibilidade que grande parte da população tem em relação ao congresso e aos políticos em geral.


Grande parte da atual crise política que enfrentamos agora no Brasil provém da falta de conhecimento por parte da população sobre os entes, as atribuições e as competências que mencionei até aqui. 


Até mesmo a parcela da população que em teoria teve acesso ao ensino superior parece desconhecer a estrutura de governo do nosso país em algum grau. 

Além, é claro, da falta de conhecimento acerca das ideologias políticas por parte de grande parte da população, e pior ainda, por parte dos próprios políticos, que tendem a reduzir as discussões para personalismos (maquiando o fisiologismo).

A pesquisa divulgada pela Folha hoje vem bem a calhar para se discutir o papel do legislativo atual e como o eleitor (não) percebe a relação entre os poderes e a população.


A manchete diz que no Brasil hoje os "parlamentares são mais liberais do que o eleitorado". Se levarmos em conta que na última eleição o Brasil elegeu a composição mais conservadora para o congresso em muitos anos, há muito para se refletir...


Em termos gerais, a matéria da Folha diz que a não ser na economia, em todos os outros tópicos o eleitor médio é ainda mais conservador que a média dos parlamentares.


Um exemplo assustador é o tópico da criminalidade.

74% dos congressistas acreditam que a principal causa do problema seja "a falta de oportunidades iguais para todos". Já para a maioria dos eleitores (60%), a maior causa é "a maldade das pessoas"...

A pena de morte também separa representantes e representados: 86% dos parlamentares defendem que "não cabe à Justiça matar uma pessoa, mesmo que ela tenha cometido um erro grave" mas dentre os que são declaradamente a favor da medida, há 43% da população e só 8% dos políticos.


Infelizmente a maioria dos eleitores parece não se atentar muito ao fato do atual presidente da câmara, Cunha, ser investigado e acusado pelo Ministério Público da Suiça por corrupção e crimes como sonegação e lavagem de dinheiro. 

Mas tem mais, dos dez prováveis substitutos no caso de um hipotético afastamento de Cunha, pelo menos sete deles são acusados de crimes e estão sendo investigados.
Ou seja, quase a metade dos eleitores aceita numa boa a maldade de certas pessoas (justamente as pessoas a quem confiamos os destinos de nosso país), mas a maldade de outras pessoas seria grave demais a ponto de ser combatida com a pena de morte...


Em relação a crimes cometidos por adolescentes, outra oposição: para a maioria dos congressistas (55%) esses jovens "devem ser reeducados". Dentre a população, o índice é de 22%. 
76% das pessoas acreditam que os adolescentes "devem ser punidos como adultos" – frase endossada por 38% dos parlamentares.

Infelizmente a maioria dos eleitores parece não se atentar muito ao que está acontecendo, e aqui me refiro ao esquema de indústria de prisioneiros que está sendo forjado, nos estados mais conservadores, com sistemático aumento da violência policial (sobretudo nas periferias) e construção de penitenciárias com cada vez mais presos. 


Curiosamente esses mesmos estados ao invés de construir mais escolas e aprimorar o sistema educacional, pelo contrário, renegam o investimento e inclusive fecham escolas nas famosas reformas que na prática apenas tornam as periferias desprovidas de quaisquer possibilidades de educar as crianças dignamente.


O resultado é bastante claro; as crianças nas periferias crescem sem acesso a uma educação digna, tornando muitas delas presa fácil para o esquema já estabelecido de crimes como o tráfico de drogas.


As drogas são proibidas por lei e o custo para combater essa tal guerra às drogas é milionário, altíssimo.

A pergunta aqui é: a tal guerra às drogas está mesmo trazendo segurança à população?
Para mim a resposta é bem fácil: não.
Basta ver os índices de violência nas periferias, onde a polícia e os traficantes ficam mais violentos a cada dia que passa, inclusive com policiais assassinados por traficantes e execuções sumárias ilegais onde o policial criminoso permanece impune.

Comparando os custos que o governo dos estados tem ao educar ou punir, percebemos bem esse esquema a que me refiro:

Enquanto um aluno custa ao governo do estado cerca de dois mil reais ao ano, esse mesmo governo de estado gasta mais de vinte mil reais por ano para manter um presidiário.
Ou seja, o esquema de indústria de prisioneiros movimenta dez vezes mais dinheiro do que proporcionar educação digna para que as crianças se tornem adultos capazes de permanecerem livres de corrupção e criminalidade.

Mais, fica óbvio perceber que num quadro desses, os preguiçosos de plantão, os corruptos de sempre e os sedentos por sangue vão acabar preferindo a pena de morte mesmo, com o intuito de "acabar" com o problema, ao invés de se fazer o certo, isto é, investir em educação digna nas periferias para transformar a situação para melhor, combatendo a violência a longo prazo e de forma efetiva.


O Datafolha bem que poderia se dignar a entrevistar todos os 594 parlamentares federais brasileiros, pois ao entrevistar apenas pouco mais da metade deles, o resultado fica prejudicado.


Mas para mim, o mais importante mesmo seria perceber se é mesmo uma questão do eleitor médio ser realmente conservador ou, na verdade, o que eu suponho que seja: a necessidade gritante do eleitor médio se tornar melhor informado, engajado no combate ao crime de corrupção e realmente preocupado com a busca por uma sociedade melhor.

7 de outubro de 2015

Magic Crayon em Brasília e Goiânia

Quinze anos atrás teve o "fim de semana Monstro" em Goiânia e Brasília.
A Monstro levou de São Paulo as bandas Chocolate Diesel, Moonrise, Magic Crayon, Transistors e Shed para tocar na parte central do Brasil.
Ainda tocaram as bandas locais Frank Poole e Hang the Superstars!
Foi a primeira vez que Magic Crayon saiu de SP pra tocar, a primeira vez que demos entrevista em rádio...

A viagem foi singular, com cinco bandas dentro de um ônibus (mais DJ, fotógrafo, dono de selo, motorista e suas duas namoradas etc) percorrendo os mais de 1.100 km de estrada numa pegada só!

Depois do primeiro show, em Goiânia - onde fomos escalados para ser a penúltima banda da noite a tocar (subimos ao palco pelas 5h da manhã!), eu acabei chutando o balde e passei o restante da viagem bebendo sem parar.
No dia seguinte em Brasília nos deram um horário menos ruim, mas o estrago já estava feito, haha, eu estava transtornado!
Me arrependo de ter urinado no canteiro da entrada da Basic 2000 (lugar onde tocamos) e de ter bebido todas as variedades de destilados da casa.

Na volta pra SP, no ônibus, ainda saindo de Brasília, antes de eu desmaiar e só voltar a acordar na marginal Tietê vomitado, paguei geral caminhando da entrada até o fundo do busão gritando que todos iríamos morrer e rindo.

Agora em outubro de 2015 Magic Crayon voltará a tocar na parte central do Brasil! YEAH!

DJ Set na Play! Brasília dia 9: https://www.facebook.com/events/456412061215889/

Goiânia dia 10: https://www.facebook.com/events/890911957665394/

Brasília dia 11: https://www.facebook.com/events/175351789466614/

5 de outubro de 2015

Cunha (delatado repetidamente e apontado pelo MP suiço): livre, leve e solto

Vaccari (ex-tesoureuro do PT) foi delatado = preso;
Cunha do PMDB (tentando o golpe contra a presidenta eleita) foi delatado = presidente da câmara intocável.

Isso sem falar das contas milionárias na Suiça, não declaradas e fruto de sonegação (e provavelmente outras formas de corrupção). 
Se fosse alguém do PT já estaria na cadeia (como deve ser com quem quer que cometa um crime cuja pena seja a cadeia) e teríamos a grande mídia dedicando destaque em cobertura especial "contra a corrupção". 

Nas capas de Veja, jornais e nos telejornais não há destaque algum a Cunha, mesmo com as várias delações contra ele, mesmo com as contas na Suiça dele e de familiares, mesmo com a mídia de vários outros países noticiando, mesmo com o MP suiço apontando...



Apesar de investigação, presidente da Câmara não deve ser alvo de processo de cassação. Além de ser figura central para um impeachment, ele protege outros investigados na Lava Jato.



E ainda tem gente que acha que o PT que institucionalizou a corrupção e que somente o PT precisa ser fiscalizado, ou pior, que o PT deve ser exterminado, todo.
Depois de morto, Gushiken derrota Veja: o caso das falsas contas no exterior.


Jurista aponta os caminhos que podem levar o presidente da Câmara até a prisão. “Em nenhum país do mundo com cultura menos corrupta que a do Brasil, a presidência de um poder seria ocupada por alguém acusado (com provas exuberantes) de ter recebido US$ 5 milhões de propina”.



27 de setembro de 2015

A/C: carrocratas brasileiros de plantão

Hoje, assistindo ao documentário Por Um Fio no canal Curta!, acabei lembrando daquele vídeo onde o carrocrata paulistano se filmou com o celular (enquanto estava ao volante parado no trânsito) gritando desesperadamente seu ódio contra o PT, os petistas, o Haddad, as ciclovias e os ciclistas...

Pobre carrocrata, sabe a Constituição da República Federativa do Brasil?

Aquele conjunto de leis que a Assembléia Nacional Constituinte de 1988 promulgou, depois de vinte anos de uma ditadura militar corrupta, censora e violenta, para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos...

Então, aqui o seu artigo quinto:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (...).

Sim, é simples: 
- um ônibus com 50 pessoas tem o direito a ocupar nas vias públicas o equivalente ao espaço ocupado por 50 carros (contendo uma pessoa cada).

Os carrocratas precisam entender que as vias públicas não são só para os carros, que os ciclistas devem ter direito ao mesmo espaço nas vias públicas que carros, motos etc.

As vias públicas devem ser usadas por ciclistas, motoristas, motociclistas e todos devem ter direito ao mesmo espaço com segurança para todos.

Felizmente o prefeito de São Paulo tem colocado em prática um projeto de cidade mais humano, privilegiando o transporte público (as vias expressas para ônibus são essenciais) e com uma malha cicloviária minimamente digna. 

21 de setembro de 2015

Sobre a carta aberta de Tito Costa a Lula

A Folha de São Paulo publicou hoje, dia 20 de setembro de 2015, a carta aberta que o ex-prefeito de São Bernardo do Campo, Tito Costa, escreveu para Lula. 
Leia aqui.

Mais da metade do texto traz as lembranças que Costa, hoje com 92 anos de idade, guarda de seu tempo de contatos com Lula nos idos de 1979 até 1981. Somente na parte final do texto é que o propósito da carta aberta se manifesta.

Partindo do princípio que ter opinião é um direito fundamental - e o texto de Costa é meramente um texto de opinião, quero deixar claro aqui que não tenho intenção alguma de causar efeito algum em meu leitor no que se refere à pessoa de Costa.
Inclusive desconheço a trajetória política dele. Sei apenas que ele era o prefeito de São Bernardo do Campo durante os últimos anos da ditadura militar.

Quando Costa define o PT como "um partido político que prometia seriedade no manejo da coisa pública" ele acaba passando uma impressão muito incompleta, pois o PT defende sim a seriedade no manejo da coisa pública, mas isso é apenas uma dentre as muitas outras características de seus valores e de sua plataforma. Todo partido que se preze promete seriedade em todos os seus aspectos.

Costa diz que o PT "logo decepcionou a todos pelos desvios de comportamento e de abusos na condução da máquina administrativa do Estado".
Realmente os desvios de comportamento de quadros de destaque do partido foram fonte de decepção para todos aqueles que buscam uma sociedade melhor. Isso não se discute.

Então o texto passa a criticar duramente o projeto de Lula e do PT no governo federal desde 2003. 
Costa faz diversas afirmações acerca de Lula e do PT, tais como:
1. "deixou escapar-lhe das mãos a oportunidade histórica de liderar a implantação de urgentes mudanças estruturais na máquina do poder público";
2. "abandonou um projeto de Brasil para dedicar-se tão somente a um ambicioso e impatriótico projeto de poder, acomodando-se aos vícios da política tradicional";
3. "em seus alargados anos de governo, com indissimulada arrogância, optou por embrenhar-se na busca incessante, impatriótica e irresponsável do aparelhamento do Estado em favor de sua causa que não é a do país";
4. se enganou "com a pretensão equivocada de implantar uma era de bonança artificial pela via perversa do paternalismo e do consumismo em favor das classes menos favorecidas, levando-as ao engano do qual agora se apercebem com natural desapontamento".

Os pontos 1, 2 e 3 são redundantes. O texto martela, o mesmo, repetidamente.
Sem entrar no mérito da discussão em torno da discrepância entre o projeto de Brasil adotado pelo PT e como esse projeto foi e é visto pelos diversos analistas e setores políticos, pois isso beira a epistemologia ou a ontologia, sinto-me à vontade para dizer que Tito Costa se engana ao fazer crer que os erros por parte do governo e os desvios de comportamento por parte de quadros de destaque do partido significam o abandono do projeto de Brasil inclusivo proposto e aprovado democraticamente pela maioria dos votos.

Se costa quis reclamar da máquina de estado inchada do PT, que é o que eu espero ter entendido corretamente, essa "oportunidade histórica" ainda está em curso. Não é porque o PT ainda não enxugou a máquina, que ele ainda não poderá fazê-lo, ou melhor dizendo, antes tarde do que nunca.

Não é como se Lula estivesse para ser executado ou adoentado de morte, Lula ainda é uma força política de grande importância no cenário brasileiro - uma das maiores.

O PT errou diversas vezes, principalmente nos desvios de conduta de quadros de destaque, e muito também em nome da tal governabilidade (e isso inclusive tem a ver com o tema aqui), mas essa implantação de que Costa trata de qualquer forma não poderia ter sido concluída com eficácia de 2003 pra cá, por vários motivos, dentre os quais: 
A. desde 1500 até 2003 o brasil veio daquele jeito, quase quinhentos anos são muito pesados para apenas doze; 
B. o PT erra (como todo e qualquer partido pode errar); 
C. as demais forças políticas e econômicas precisariam apoiar (ou pelo menos aceitar) essa implantação (o que não acontece).

O PT foi eleito para governar o executivo federal, mas ainda há o executivo estadual (multiplique isso por 27), o executivo municipal (multiplique isso por 5.570), além do legislativo (em todas as esferas) e do judiciário (em todas as esferas). 
Isso sem falar do poder econômico etc. 

Sobre os pontos 3 e 4:
Se em termos da tal "máquina do poder público" o PT realmente falhou, é impossível negar que em termos de inclusão social o projeto do PT foi o responsável pelas ações que proporcionaram mudanças positivas históricas.
Esse consumismo, que o tal paternalismo de Lula e do PT proporcionou às classes menos favorecidas, que Costa abomina, sempre foi "direito fundamental" dos privilegiados das classes altas.
Isto é, Costa faz crer que quando o consumismo é praticado pelas classes favorecidas, tudo bem, não é engano, mas quando um governo proporciona consumismo às classes historicamente desfavorecidas, então se trata de engano...

Costa afirma que Lula e o PT levaram as classes desfavorecidas do Brasil ao engano e puxa vida, que esse engano seria justamente a bonança a que nunca antes tinham tido acesso. 

O tal engano nada teve a ver com a bonança material, essa sim muito bem-vinda na busca por uma sociedade melhor. 
Quadros de destaque do partido enganaram sim a confiança de todos, mas o programa de Brasil inclusivo do governo federal do PT continua surtindo efeitos positivos.

Costa vai mais longe, afirma que o tal engano gerou o desapontamento atual. 

Sobre o desapontamento que se sente hoje, Costa se engana ao fazer crer que venha das mesmas pessoas que foram beneficiadas pelos governos de Lula e do PT. 
Desde 2003 o consumo aumentou no Brasil, o poder de compra do salário aumentou e o desemprego caiu. A ONU retirou o Brasil do mapa da miséria, pela primeira vez na história. 
Os programas sociais dos governos do PT, principalmente nas áreas da educação, da habitação e da saúde, foram e são fundamentais. Fato.

O desapontamento vem das classes médias tradicionais, das pessoas que se viram enciumadas pela inédita companhia de milhões de pessoas que progrediram a ponto de agora fazer parte das classes média.

Outra coisa muito importante é perceber que esse desapontamento vem sendo amplamente incentivado e impetrado pelos partidos de oposição e pela grande mídia, numa campanha incessante que ao invés de fazer a crítica em prol do bem do país, nada mais está fazendo que promover o caos e a instabilidade política e econômica e isto sim me parece algo impatriótico.

Muitos dizem que o principal erro do PT, na hora de botar em prática seu projeto de Brasil, foi o de priorizar o acesso ao crédito e ao consumo, ao invés de priorizar a inclusão social via educação.

Às vezes concordo com essa crítica, às vezes não.
Reclamar fica fácil, para nós, que nascemos e crescemos com acesso a serviços básicos e tivemos uma formação efetiva, mas procure imaginar como seria na prática isso de promover a inclusão social de milhões de pessoas via educação - sem promover bonança material (isto é, consumismo) - sendo que essas milhões de pessoas se encontram em situação de miséria, desfavorecidas desde o nascimento.

É preciso ter disposição na hora de analisar a situação, para dimensionar o papel do PT nessa crise toda; apontar Lula como bode expiatório é fácil, mas reprovável; fazer crer que o PT é a causa dos males do país e que por isso deveremos todos "esperar por uma era de dificuldades e incertezas", além de algo extremamente pessimista, é inútil e parcial.

17 de setembro de 2015

Living on one

Liguei o Netflix pra ver se tinha algo novo, algo de bom; fui na seção "adicionados recentemente" e no meio das baboseiras usuais (blockbusters...) tinha um documentário chamado Living On One Dollar (o subtítulo do filme é "56 dias, 56 dólares, como você sobrevive?").

Acabei de assistir agora; o filme me deixou arrepiado, emocionado.

Dois norte-americanos - um de Nova Iorque e outro de Seattle - que cresceram em famílias de classe média e se tornaram amigos na faculdade, de tanto conversarem sobre a situação precária dos mais de 1,1 bilhões de pessoas mais pobres deste nosso planeta, decidiram criar algum projeto a respeito.

Chamaram dois outros amigos da faculdade - cineastas - e juntos os quatro foram viver com um dólar ao dia por dois meses (durante as férias deles na faculdade) no vilarejo Peña Blanca no interior da Guatemala em 2010, mostrando as dificuldades que qualquer um que teve o azar de nascer pobre enfrenta diariamente.

O projeto inicial não era fazer um filme. A ideia era fazer vídeos curtos e disponibilizar no youtube; assim o fizeram. Então os vídeos se tornaram extremamente populares. 
Depois é que veio a ideia do documentário, que já foi exibido em diversas universidades nos EUA e que desde o início de setembro de 2015 está disponível mundialmente através do netflix.

Nos dias atuais, com a polarização ideológica que grita em nossa sociedade, entre os que pensam nas desigualdades sociais como coisas naturais, inevitáveis ou até mesmo benéficas; e os que pensam nas desigualdades sociais como coisas inaceitáveis no estágio atual de tecnologia e capacidade em que se encontra a espécie humana; ver quatro jovens de classe média norte-americanos dispostos a - mesmo que por um curto período - largar a vida confortável que tiveram desde o nascimento para testemunhar e experimentar a vida miserável e sem perspectivas que os guatemaltecas de Peña Blanca se submetem a viver por pura ausência de alternativas, é algo revelador e inspirador.
O filme retrata pessoas de diferentes origens, de diferentes classes sociais - pessoas que são postas em contato num contexto que tinha tudo para ser desgastante, em situações que tinham tudo para demonstrar o quão estereotipados e preconceituosos podemos ser -, se abrindo ao outro, de maneira sincera e jovial.

Se você é daqueles que acham que a desigualdade social é natural, inevitável ou até mesmo algo benéfico, que só vive na miséria quem é preguiçoso e que quem merece ou faz por merecer consegue progredir, por favor assista a esse filme. Ele pode te fazer refletir.

Se você é daqueles que acham que a desigualdade social é inaceitável e que o ser humano parece não evoluir como espécie por conta do egoísmo, por favor assista a esse filme. Ele pode te inspirar.

Informações detalhadas para quem se vira no inglês:
A página na wikipedia aqui.
O trailer no youtube aqui.
A página no facebook aqui.